Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
João Marcelo Bôscoli aponta hiperfragmentação na música, mas não vê crise de talentos
O produtor criou o programa ‘O Novo Sempre Vem’, com recorte para a cena musical emergente
João Marcelo Bôscoli, 55, vivenciou de perto como produtor os vários momentos da cena musical do País nos últimos 30 anos. Entre ciclos de altos e baixos, conclui, houve de 2019 para cá um ressurgimento da MPB no sentido mais amplo, abarcando diversos gêneros — inclusive a música instrumental, com interesse do público nessa efervescência.
“Por causa dessa hiperfragmentação, não se tem a sensação de que algo está acontecendo na música. Parece que só tem quatro gêneros musicais no Brasil, quando se sabe que é o país em que mais existem matrizes musicais”, argumentou, em entrevista a CartaCapital.
João Marcelo aponta que segmentos como funk, sertanejo, piseiro e trap estão bem organizados em seus ecossistemas com estúdios, compositores, artistas, empresários, casas de espetáculo e patrocinadores. “São cenas bem resolvidas”, resume.
No segmento que se convencionou chamar de Música Popular Brasileira, contudo, o produtor aponta a necessidade de consolidar o ambiente, a fim de mostrar o que está em curso. “Não há crise de talentos. O que existe é a necessidade de espaço para esse pessoal.”
Com o objetivo de valorizar essa cena, o produtor criou O Novo Sempre Vem. O programa nasceu na rádio Nova Brasil FM e depois ganhou também uma versão na TV Cultura. O projeto é realizado pela produtora Trama, de João Marcelo e André Szajman.
Na Cultura, o programa estreou em 30 de setembro com o pernambucano Fitti, indicado ao Grammy Latino 2025 na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa, com o seu primeiro disco, Transespacial.
O próximo episódio, na terça-feira 4, terá o duo Benziê, formado por Vic Conegero e Du Pessoa. Participam também do projeto nomes como Josyara, Tuyo, Michel Pipoquinha, João Sabiá, Silibrina, Jadsa, Isabella Rocha, Fabio Brazza, Vanessa Moreno, Zudizilla, Josiel Konrad, entre outros.
João Marcelo cita ainda o paulistano Will Santt, que tem um timbre e um toque no violão muito parecidos com os de João Gilberto. O produtor lembra, em tom de brincadeira, que o cantor baiano, quando ainda engatinhava na carreira no Rio de Janeiro, passaria apenas três dias na casa de seu pai, Ronaldo Bôscoli, mas ficou por seis meses. “Agora arrumei também um João Gilberto para mim.”
A Trama inaugurará seu canal de música em março de 2026, mas já tem disponibilizado na Trama TV, no YouTube, alguns programas de O Novo Sempre Vem. Para o ano que vem, a meta é levar o programa aos palcos, com shows ao vivo de artistas integrados ao projeto.
Segundo João Marcelo, a ideia é unir um grupo de artistas para que cada um apresente quatro músicas. “Era o que a gente via nos programas de televisão que a Elis Regina (sua mãe) apresentava nos anos 1960.”
Em 29 de novembro, às 13h, no Festival Nova Brasil 2025, no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, o projeto O Novo Sempre Vem terá a primeira experiência do programa no palco, com a presença de Malú Lomando, Filipe Toca, Fitti, Ana Frango Elétrico e Julia Mestre.
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