Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
João Gordo: Vivemos na necropolítica. Eles decidem quem vai viver e quem vai morrer
Banda Ratos de Porão lança álbum crítico à era bolsonarista: ‘Cada letra narro o que está acontecendo de 2018 para cá’, diz o vocalista
O grupo Ratos de Porão, para celebrar 40 anos de estrada, lança novo álbum, com o nome de Necropolítica. O vocalista da banda, João Gordo, explica que o título refere-se à degradação social e política dos últimos anos. “Vivemos na necropolítica. Eles decidem quem vai viver e quem vai morrer”, diz.
“O lance de Manaus foi o mais traumático”, afirma. Durante a pandemia, a capital amazonense sofreu com a falta de oxigênio nos hospitais, essencial para manter vivos pacientes vítimas da Covid-19. “As pessoas não tinham insumo para serem intubadas”, lembra.
“O nome (do disco) é perfeito para marcar esta época que estamos vivendo. É um disco fúnebre porque morreram muitas pessoas. Metade delas poderia ter sido salva se não fosse o negacionismo retardado”.
João Gordo conta que as letras das músicas do décimo-terceiro álbum da banda, feitas por ele, foram compostas para extravasar o período difícil da pandemia. Já as melodias foram produzidas pelos integrantes do grupo Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (na bateria). O Necropolítica, no Brasil, será lançado em CD pelo selo Shinigami e em vinil, pela Anomalia.
“O disco parece uma opereta. Ali tá meu ódio“, revela. “Cada letra eu estou narrando o que está acontecendo de 2018 para cá. Está registrado aí para o pessoal ficar sabendo o que aconteceu”.
O grupo, que começou como punk hardcore, recebeu influências de subgêneros do heavy metal ao longo do tempo que estão representadas neste novo disco.
O músico lembra dos primeiros álbuns do Ratos de Porão, todos muito críticos em um período também de crise aguda. “Você pega o (álbum) Brasil, que é um disco de 1989, parece que foi feito agora”.
João se envolveu em três trabalhos solos durante pandemia: um de death metal com a banda Lockdown, um de versões rockabilly de clássicos do punk rock com o Asteroides Trio e o Brutal Brega. Este último é um álbum de memória afetiva dos anos 70 de João Gordo.
Ele conta também como começou o projeto Solidariedade Vegan, iniciativa da mulher, Viviane Torrico, que já distribuiu mais de 180 mil marmitas a moradores de rua nos dois anos de pandemia.
“São Paulo é um acampamento a céu aberto”, resume sobre a quantidade de pessoas morando na rua na maior cidade brasileira. Ele coloca a Cracolândia como exemplo da necropolítica: “A realidade está na rua, está no supermercado. Não fique preso na sua bolha”.
Assista a entrevista na íntegra de João Gordo.
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