Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Inovador, Arrigo Barnabé vê ‘vazio’ na produção musical atual

Músico se junta à banda Isca de Polícia para lembrar o grande parceiro Itamar Assumpção, neste domingo 19, no Sesc Guarulhos, em SP

Foto: Divulgação
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Clara Crocodilo foi lançado em 1980 e é um dos marcos de ruptura e inovação da música brasileira com fragmentos sonoros, mistura pop de diferentes tons, além de letras irônicas, rebeldes e quase faladas em vez de cantadas.   

“Quando a gente lançou o Clara Crocodilo já era um sintoma de crise da canção enquanto forma clássica, estabelecida por (George) Gershwin e depois por Tom Jobim. Você começa a perceber que a expectativa estética da sociedade deixou de ser essa canção”, diz Arrigo Barnabé, autor do álbum que fez parte da Vanguarda Paulista, a CartaCapital. “Já não tem mais a ideia da canção. (O Clara Crocodilo é) quase um teatro radiofônico. Depois disso surgiu o rap. Isso atende às expectativas estéticas da sociedade. Isso começa a entrar no sistema de circulação cultural. A gente quando começa a usar as coisas faladas nos anos 1980 estava sinalizando isso”.

O cantor, compositor, instrumentista e ator diz sentir falta dos impactos que os álbuns traziam naquela época, capazes de mudar os rumos da produção musical. “Hoje, sinto um esvaziamento. A maior parte da produção é vazia. A sociedade está esperando um momento novo”, diz. 

Na conversa, Arrigo lembra dos perrengues na época da Vanguarda Paulista. “A gente trabalhava completamente sem condição”, recorda. “Tinha vontade de comer alguma coisa e não podia [por falta de dinheiro]. Um período muito difícil”.

Um dos músicos com quem dividia as dificuldades era Itamar Assumpção, que Arrigo conheceu ainda em sua terra natal, Londrina, num festival em 1971. “Itamar morava em Arapongas [cidade próxima a Londrina] e fazia parte de um grupo de teatro. Um grupo muito bom. Depois participamos de uma mostra de música”. 

O Itamar acabou indo para São Paulo chegando a morar um bom tempo com Arrigo. “A gente não compôs tanto junto não. A gente fez algumas, ele gravou coisas minhas, eu gravei coisas dele”. O primeiro disco de Itamar saiu pouco depois de Clara Crocodilo.

Parte dessa parceria está sendo apresentada no projeto Tristes Trópicos, que tem apresentação neste domingo 19, no Sesc Guarulhos, em São Paulo – mais informações aqui.

Arrigo Barnabé faz o show com a banda conhecida por acompanhar Itamar Assumpção, a Isca de Polícia, formada nesta apresentação por Paulo Lepetit (baixo), Marco da Costa (bateria) e Jean Trad (guitarra).

No repertório, além de músicas assinadas por Itamar e dos tempos da Vanguarda Paulista, Arrigo apresenta versão para músicas de Nelson Cavaquinho e Ataulfo Alves.

“A gente está esperando que a mudança continue. Que a gente não passe novamente por um período tenebroso como dos últimos quatro anos. Estamos otimistas”, diz Arrigo.  Assista a entrevista:

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