Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Iara Rennó dá sonoridade a palavras e sentimentos que saúdam os orixás
Oríkì, oitavo álbum da cantora e compositora, mescla com singularidade tambores e instrumentação contemporânea


Oriki é um termo ioruba. É uma saudação ao espírito que expressa sentimentos e sentidos. Várias dessas reverências foram transcritas mais recentemente para o português.
Iara Rennó cita-os como poemas que vem da tradição oral milenar. A cantora e compositora partiu deles, ora aproveitando traduções originais, ora apresentando composições suas extraídas dessa cultura, para criar 13 canções para o denso álbum Oríkì (Dobra Discos/Altafonte).
O longo período de produção de mais de uma década para chegar ao resultado final traz uma disco que converge de forma única atabaques tradicionais com a sonoridade contemporânea que tem bateria, baixo, guitarra, piano e metais. O trabalho consistente valeu a indicação ano passado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa”.
O disco tem várias participações de peso, o que valoriza ainda mais o registro: Tulipa Ruiz, Carlinhos Brown, Criolo, Anelis Assumpção, Lucas Santtana, Thalma de Freitas, Curumin e Rob Mazurek.
Iara conta que algumas faixas do disco são letras do livro Oriki Orixá (1996), de Antonio Risério, que foram musicadas por ela. Outras canções foram compostas a partir de suas pesquisas de oriki registradas por versados no assunto, como os babalorixás Sikiru Salami e Pierre Verger.
“Tenho jeito próprio de compor. Gosto muito de partir dos textos, de trabalhos temáticos”, afirma. “Foi do contato com essa literatura (de oriki) que eu comecei a compor as músicas, dando voz a essas palavras que originalmente não eram canções”.
Em cada faixa do álbum, um orixá é celebrado – o oriki, originalmente, é uma forma de saudar os orixás. “Uma coisa do conceito que fiz propositalmente foi omitir o nome do orixá nas músicas. É uma saudação que ele vai encadeando uma série de qualidades de cada orixá. Trago isso, mas evito o nome, que é para cair em um caminho de instigar a percepção da pessoa (sobre a música)”, diz.
Ori Okàn é o segundo álbum e completa o projeto. Tem lançamento previsto para maio deste ano. “A gente vai seguir na mesma temática, mas a abordagem e a sonoridade são completamente diferentes. O Ori Okàn fala de minha história dentro do candomblé, da minha visão. As músicas tem um formato diferente. De certo modo, esse disco traz canções mais populares. O Oríkì é hermético, ele aguça sua percepção. O Ori Okàn será mais intimista”, conta.
No dia de Iemanjá, 2 de fevereiro, em vez de participar dos festejos na Bahia à divindade como costuma fazer, a cantora sobe ao palco do Sesc Pompéia, na capital paulista, para apresentar o disco Oríkì.
Iara Rennó comemora o ano de 2023: “É um renascimento do Minc (Ministério da Cultura), das políticas públicas culturais. A gente tem tudo para retomar as rédeas da cultura. É a nossa representatividade”.
Assista a entrevista de Iara Rennó a CartaCapital na íntegra:
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