Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Hercules Gomes: ‘O piano entrou na minha vida e me escolheu’

De origem humilde, talentoso pianista fala de seu resgate das obras de Ernesto Nazareth, Tia Amélia, Chiquinha Gonzaga e Tupinambá

Foto: Riba Dantas/Divulgação

Apoie Siga-nos no

Depois de recitais com composições de Ernesto Nazareth, lançar álbuns sobre a obra de Chiquinha Gonzaga (2018) e Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia (2020), mais recentemente foi a vez de apresentar músicas de Marcelo Tupinambá com lançamento de um EP.

Em comum, além de pianistas, todos eles contribuíram sobremaneira para moldar a música brasileira na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. São esses históricos compositores que Hercules Gomes resgatou para apresentar ao seu piano nos trabalhos citados.

Tudo que pesquiso é em função de tocar piano melhor. E o gênero que mais gosto é o choro”, diz. “A ligação com esses pianistas foi para tocar choro melhor. É o gênero de música urbana brasileira mais antigo. E nasceu junto com o piano”. 

O artista conta que o piano teve um papel social na formação da identidade musical brasileira. Naquela época não existia som mecânico e a música era executada ao vivo em vários lugares por uma orquestra, um grupo de câmara pequeno ou um piano. 

“O piano tem uma potência sonora e uma tessitura que se consegue animar um baile sozinho. O piano existia em muitos lugares”, acrescenta. “O pianista era o veículo para levar a música que estava sendo feita no Brasil. E é isso que esses pianistas faziam não só com as composições deles, mas com a música que chegava da Europa e se misturava com a que estava sendo feita aqui. Então, teve um papel fundamental”.

Hercules Gomes explica que a música de Marcelo Tupinambá é um pouco mais singela e também de Chiquinha Gonzaga se comparada com à de Ernesto Nazareth. “Mas tudo tem um nível de complexidade diferente. E quando toco essas músicas eu acabo fazendo meu próprio arranjo – em poucos casos faço exatamente como o compositor escreveu”.


As obras de Tia Amélia e Marcelo Tupinambá vinham caindo no esquecimento, lembra o músico. “Tupinambá é considerado um Franz Schubert brasileiro”, diz. Ele conta que Tupinambá era engenheiro e como não pegava bem para ele tocar tango brasileiro ou maxixe, usava o pseudônimo de Marcelo Tupinambá (seu nome verdadeiro era Fernando Lobo). 

“O piano sempre foi um instrumento elitista e caro. E não tem como ser porque é um instrumento muito complexo – comparado, por exemplo, com o violão”, pontua. “Vim de uma família muito humilde, não tinha dinheiro para comprar teclado, nem estudar piano. Num dos ensaios que fazia em casa, um amigo deixou um tecladinho. Daí, comecei a tirar música desse teclado”.

Hercules Gomes nasceu em Vitória, no Espírito Santo, e passou parte da vida no município vizinho de Cariacica. 

Aos 15 anos foi procurar um conservatório de música para estudar piano, quando teve contato com o instrumento. “O primeiro piano fui ter aos 21 anos de idade, já na faculdade (formou-se na Unicamp em música popular). Isso envolve um pouco de sorte, um pouco de destino. Você não escolhe a música, a música que te escolhe. O piano entrou na minha vida e me escolheu”. 

Hercules Gomes faz live toda quinta-feira em seu canal no YouTube – o programa tem público cativo e já passou de 90 sessões. 

Assista a entrevista de Hercules Gomes a CartaCapital na íntegra:

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.