Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

‘Foi catártico’, diz Zé Ibarra sobre o último dueto com Milton Nascimento no Mineirão

Músico, que fez a segunda voz na despedida de Bituca dos palcos, é uma das maiores revelações da MPB

Foto: Sérgio Freitas/Divulgação

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Dias atrás Zé Ibarra e a sua banda Bala Desejo – composta ainda por Julia Mestre, Lucas Nunes e Dora Morelenbaum – levaram o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Português com Sim Sim Sim

O disco é mais uma prova da competência do cantor, compositor e instrumentista. Trata-se de um trabalho com uma rica narrativa musical e um aproveitamento muito bem realizado das possibilidades que só um álbum com várias faixas pode proporcionar.

O disco nasceu durante a pandemia, quando os integrantes do grupo foram morar juntos.

“A gente entendeu o disco mais sobre contato, sobre corpo, sobre dança, um desopilar corporal”, diz Ibarra. “A gente queria propor algo que tivesse a ver com a coletividade. O ‘recarnaval’ do Bala Desejo, de uma galera que chega com a possibilidade de uma alegria depois de um momento traumático. E queríamos fazer disso uma narrativa completa.”

As letras e melodias emergem a partir do momento pré-pandêmico, depois o fim da normalidade com a Covid, o baile de máscaras da folia com a pandemia e a geleia do carnaval – tudo expressado de forma alegórica no álbum. 

A gravação do disco Sim Sim Sim conta com instrumentistas de peso: Alberto Continentino (baixo), Thomas Harres (bateria), Daniel Conceição (percussão) e muitas participações, como Marcelo Costa (percussão), Jaques Moremlembau (arranjos), Diogo Gomes (sopros), Ana Frango Elétrico (coprodutora do álbum), Rubel, Tim Bernardes, Teresa Cristina, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Sophia Chablau, Duda Beat, Duda Brack, entre outros.


“Foi emocionante. Chorava na gravação. Música é um milagre. Quando é feita com amor, é um milagre elevado”, conta Ibarra. “Foi uma comunhão forte”.

Dia histórico

Antes do Bala Desejo, Zé Ibarra já era cantor e compositor de destaque na banda Dônica, que chegou a lançar um disco virtuoso em 2015 e tem outro pronto para ser lançado. No final de 2019, foi convidado a acompanhar Milton Nascimento fazendo duetos, segunda voz e tocando.

Na turnê de despedida de Bituca dos palcos, intitulada Última Sessão de Música, Zé Ibarra experimentou a maior emoção de sua vida no show de enceramento da temporada em uma apoteótica apresentação no Mineirão, em Belo Horizonte, no último dia 13, diante de 60 mil pessoas. 

Sabia que esse dia seria histórico. Estou pensando nesse dia desde o começo do ano. Sabia que teria uma emoção descontrolada”, lembra. 

O artista conta que, horas antes da apresentação histórica, foi ao camarim do Milton, como sempre fazia: “Ele gosta muito de ouvir Ray Charles antes dos shows. Só que esse dia entrei diferente no camarim. Não era um show normal. Era o último. Entrei, olhei para ele. Não falei nada. Olhei como quem diz: ‘chegou (o dia)’. E o Bituca falou: ‘Pega a caixinha e bota Ray Charles’. Me deu uma coisa. Bituca é a música. Ele é a própria música. Ele pensa e respira música o tempo todo”. 

Ouviram Old Man River. “Ele sempre canta, sempre mostra os arranjos. Ele é emocionado pela música antes de qualquer coisa, um cara muito apaixonado. Comecei a chorar desesperadamente e não parei até quase entrar no palco porque tinha que parar senão não conseguiria cantar”, diz. “Foi um negócio catártico. Quando entrou o Clube da Esquina foi casca grossa porque o Mineirão começou a gritar. Fico emocionado até agora”.

Zé Ibarra prepara agora para lançar dois discos solos, com composições suas e de conhecidos.

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