Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Envolvido com bets, Gusttavo Lima já foi acusado de pagar ‘jabá’ e recebeu cachês milionários de prefeituras
A relação entre a indústria da música e contratos públicos levanta questões sobre transparência e bom uso do dinheiro público



A empresa do cantor Gusttavo Lima, a Balada Eventos e Produções Limitada, teve 20 milhões de reais bloqueados pela Justiça, além da apreensão de imóveis e embarcações em nome da firma, por suspeita de lavagem de dinheiro, informou o programa Fantástico, da TV Globo.
A ação judicial faz parte da operação que, na semana passada, prendeu a influenciadora Deolane Bezerra. A Balada é acusada de envolvimento em um esquema criminoso de apostas ilegais com a Vai de Bet, empresa de apostas da qual o sertanejo é garoto-propaganda e cujo proprietário está foragido da Justiça.
No início de 2020, um empresário, sem se identificar, afirmou em matéria publicada no UOL que o sertanejo chegava a pagar 700 mil reais para ter suas músicas executadas nas emissoras de rádio em todo o país. Conhecida como ‘jabá’, essa prática se institucionalizou no Brasil em meados dos anos 80, por meio das gravadoras.
Nas duas últimas décadas, com o menor poderio financeiro das gravadoras e a necessidade de músicos se ‘autoproduzirem’, a prática passou a ser realizada diretamente pelas empresas dos artistas junto às rádios. A legislação frágil impede uma ação efetiva contra o jabá, que favorece aqueles com maior poder econômico a alcançar o sucesso.
Em meados de 2022, foi revelado que Gusttavo Lima receberia 1,2 milhão de reais pela realização de um show no pequeno município de Conceição de Mato Dentro, em Minas Gerais. O caso desencadeou investigações sobre esse tipo de contratação, expondo graves distorções de prioridades em municípios pequenos, com cerca de 20 mil habitantes, que mal conseguem custear obras públicas básicas.
A prática não só não cessou, como o próprio Gusttavo Lima foi contratado novamente, em 2024, para os festejos da cidade de Campo Alegre de Lourdes, na. Bahia, por 1,3 milhão de reais. Na ocasião, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou o cancelamento da apresentação, alegando que o valor pago ao artista era quatro vezes maior que todo o orçamento da Secretaria Municipal de Cultura para o ano.
A contratação de artistas para shows em cidades, pequenas ou grandes, não é proibida, mas deve ser feita com transparência e dentro dos limites do orçamento municipal. Na época da contratação do show do sertanejo, Campo Alegre de Lourdes estava em estado de calamidade pública por causa da seca.
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