Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Em novo disco, Tom Zé exalta a ‘língua brasileira’: Português da Europa é um atropelo de consoantes

Artista lança álbum a partir de estudo sobre as influências que mudaram o vernáculo de Portugal no Brasil

Foto: Fernando Laszlo/Divulgação

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Tom Zé lança mais um inventivo e provocativo álbum chamado Língua Brasileira (Selo Sesc), que é um contraponto à língua portuguesa genuinamente europeia.

“Depois de ver as pesquisas de Caetano Galindo (linguista), Viveiros de Castro (antropólogo) e Eduardo Navarro (estudioso da língua Tupi), a gente se convence que são completamente diferentes as origens, as influências”, afirma o cantor e compositor, em entrevista a CartaCapital. A etnolinguista Yeda Pessoa de Castro também o ajudou nas pesquisas.

O artista conta que, a partir de documentos e calhamaços instrutivos e elucidativos, descobriu como foi possível criar um idioma tipicamente brasileiro, com influências indígenas e africanas – o próprio português tem um longo histórico de intromissões.

“Em Salvador, a língua falada era o português brasileiro e principalmente línguas africanas que o candomblé levou para a Bahia. Tanto que tinha padre que era pai de santo”, diz ao lembrar da época que deixou sua terra natal, Irará, interior da Bahia, e se mudou para a capital. 

O novo disco de Tom Zé, já disponível nas plataformas de música, tem 11 faixas, com 10 inéditas – apenas a que dá nome ao álbum já havia sido gravada. 

O trabalho abre com Hy-Brasil Terra Sem Mal, inspirada numa crença tupi-guarani. Em A Língua Prova o Que, faixa de quase 10 minutos, uma formidável letra com termos, expressões e materializações da cultura afro-brasileira inserida no Brasil que insiste em apagar sua história – aqui, o baiano mostra de forma plena a sua genialidade crítica. 


Segundo as averiguações de Tom Zé para construção do álbum, a forma melodiosa com que falamos tem muito da língua africana quimbundo, com acento nas vogais.

 “Por isso que nós temos essa língua cantada. O português da Europa é um atropelo de consoantes, que mal a gente consegue entender”, afirma. “Tentei ligar todos os assuntos no disco, dando um beliscão na curiosidade do público”, revela. 

As músicas do álbum Língua Brasileira foram feitas por Tom Zé para o espetáculo teatral de mesmo nome, dirigido por Felipe Hirsch, que estreou em janeiro deste ano em São Paulo. A produção musical do disco é de Daniel Ganjaman e Daniel Maia. Os shows de lançamento do novo trabalho do baiano acontece no Sesc Vila Mariana, na capital paulista, nos dias 9 e 10 de julho.

Sobre a situação atual do País, Tom Zé, 85 anos, diz que “falar mal do governo é ajudar o governo”, seguindo a tese de Marshall MacLuhan, teórico da comunicação e profundo estudioso do alcance da mensagem independente do conteúdo. 

Assista a entrevista:

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