Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Em constante desconstrução musical, Kiko Dinucci diz focar mais no som que na canção

O cantor e compositor da banda Metá Metá afirma que seu novo disco, sobre a obra de Noel Rosa, só terá guitarra

Em constante desconstrução musical, Kiko Dinucci diz focar mais no som que na canção
Em constante desconstrução musical, Kiko Dinucci diz focar mais no som que na canção
Foto: Divulgação
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Kiko Dinucci ouvia rock pesado na adolescência, mas do metal saltou para o punk e deste para o samba. Após a morte de Kurt Cobain, em 1994, diz ele, “ficou tudo comercial” no rock, enquanto o samba ofereceu um caminho para a transgressão na música brasileira.

Esse caldo sonoro formou Dinucci e pode ser notado em seus diferentes trabalhos: Padê (2007), com Juçara Marçal; Pastiche Nagô (2008), com o Bando AfroMacarrônico; no projeto Duo Moviola, com Douglas Germano; no Metá Metá (formado ainda por Juçara Marçal e Thiago França); e no grupo Passo Torto.

Em seus álbuns solo Cortes Curtos (2017) e Rastilho (2020), percebe-se o maior exemplo de sua permanente desconstrução musical.

Cortes Curtos, que era um disco de hardcore, é todo de samba”, disse Dinucci em entrevista a CartaCapital. “Era um disco de hardcore punk que só poderia ser feito no Brasil, em São Paulo e por mim. Tem a ver como meu caminho, com meu jeito de ver a cidade.”

Depois de Rastilho, veio um disco experimental, o VHS (2021). “É um disco em que improviso 20 minutos de violão, é dificílimo de ouvir. É um violão acústico, mas muito mais agressivo, com experiência sonora mais percussiva, mais ruidosa. Fiz justamente para matar a expectativa do Rastilho.”

A lista de artistas com os quais trabalhou, como Elza Soares, Jards Macalé, Marcelo D2 e Arnaldo Antunes, mostra ousadia, com um toque musical personalíssimo.

“Tinha a aspiração de ser um compositor no sentido clássico. Um cara que pegava o violão e tirava boas letras, boas melodias, uma harmonia inteligente. Mas fui sacando que não era isso”, afirma. Com o passar dos anos, acrescenta, chegou à conclusão de que seu trabalho estava “mais ligado ao som do que à canção”.

É nesse sentido que Dinucci entende que sua obra tem seguido o caminho de “uma certa alquimia”. Trata-se, por óbvio, de um modo de trabalho que vai contra a corrente da indústria músical. “O que incomoda é que gostaria de ganhar mais dinheiro. No campo artístico não me incomodo”, admite.

Para Kiko Dinucci, a música experimental influencia a música de massa, mas a juventude tem de chegar “passando um trator” para apresentar seu trabalho.

No ano que vem, ele deve lançar um disco no qual cantará apenas com guitarra sobre a obra de Noel Rosa. “Quero tirar o Noel daquela coisa bucólica carioca do Rio de Janeiro e trazer um pouco para esquisitice. Noel Rosa também era esquisito.”

Outro projeto em que Kiko Dinucci está envolvido é um livro de história em quadrinhos intitulado Olho Derramado, todo dedicado ao cinema.

Assista à entrevista do artista a CartaCapital:

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