Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Documentário propõe reflexão sobre a representatividade da mulher no forró
Em um ambiente masculino e machista, forrozeiras tentam romper barreiras para cantar e tocar
O documentário Sala de Reboco, de Cynara Thomaz, ouve mulheres ligadas ao forró sobre os desafios de circular em um ambiente eminentemente masculino e machista. O filme percorre a partir deste ano o circuito de festivais de cinema.
O curta se concentrou em artistas de São Paulo, onde o forró teve forte inserção por causa da migração de nordestinos. Marinês, a Rainha do Xaxado, e Anastácia, apelidada de Rainha do Forró, foram duas que conseguiram se sobressair em um tempo ainda mais difícil para se destacar entre os homens, na segunda metade do século passado.
O minidocumentário de 25 minutos conta com depoimentos de Fran Nóbrega, cantora e instrumentista; Juliana Lima, cantora, compositora e sanfoneira; Neide Nazaré, cantora e instrumentista; Nanda Guedes, cantora, compositora, arranjadora e multi-instrumentista; Andressa Ferri, produtora e idealizadora do Forró das Minas; e Paulinho Rosa, proprietário do Canto da Ema, uma das casas de forró mais conhecidas de São Paulo.
As declarações das mulheres se centram nas dificuldades de abrir espaço com uma voz feminina ou, ainda, com uma sanfona ou uma zambumba nas mãos. O preconceito muitas vezes não está apenas entre os produtores responsáveis pela contratação de artistas, mas no próprio público.
“A zambumba é pesada, mas depende do jeito que se pega. Mas eu não largava. Fazia show de quase três horas. Tenho orgulho do instrumento que toco”, conta Neide Nazaré no documentário. “Existe um estranhamento quando o público vê um grupo só de mulheres no palco”, aponta Juliana Lima.
As letras de forró que situam a mulher em uma condição inferior revelam o imenso desafio das artistas forrozeiras. O documentário abre um espaço importante para um tema que não permeia apenas o forró, mas o samba, outra identidade nacional.
Os depoimentos mostram mulheres dispostas a dialogar sobre o assunto, algo que décadas atrás talvez nem fosse possível, tamanha a repulsa a vozes e toques femininos no forró.
“Tem que brigar muito por espaço. A maioria do lineup de festivais é sempre de homens”, diz Nanda Guedes. “A gente precisa ficar dizendo nas casas de shows o quanto é importante. Não vejo isso como uma responsabilidade só dos produtores, mas do público. Infelizmente, o público forrozeiro tem um preconceito muito grande com mulheres tocando.”
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