Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Documentário lança luz sobre a repressão ao movimento punk rock nos anos 1980

O filme conta com depoimentos de diversos músicos censurado pela ditadura militar

Documentário lança luz sobre a repressão ao movimento punk rock nos anos 1980
Documentário lança luz sobre a repressão ao movimento punk rock nos anos 1980
Foto: Nana Leme
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Um movimento contra o sistema fez surgir o punk rock nos anos 1970, notadamente nos Estados Unidos e na Inglaterra. No Brasil, ganhou corpo no fim daquela década e no início dos anos 1980, representado por bandas como Ulster, Cólera, Ratos de Porão, Inocentes, Garotos Podres e Olho Seco.

Integrantes desses grupos dão depoimentos sobre o período da ditadura no documentário Não É Permitido: um Recorte da Censura ao Punk Rock no Brasil, de Fernando Calderan Pinto da Fonseca, Fernando Luiz Bovo, Matheus de Moraes e Renan Costa de Negri.

O curta de 34 minutos está disponível no YouTube gratuitamente e conta com bons testemunhos da última década de censura prévia no País, extinta pela Constituição de 1988. O filme também apresenta documentos do governo proibindo a execução de dezenas de músicas.

Na abertura, Ariel Uliana Junior e Clemente Tadeu Nascimento, do Inocentes, lembram que para prensar os discos era necessário antes enviar as músicas ao departamento de censura.

João Carlos Molina Esteves, o Jão, do Ratos de Porão, e Valdemir Pinheiro, o Val, de Cólera e Olho Seco, acreditam que o fato de serem censurados era indicativo de que as músicas antissistema e de críticas ao governo incomodavam.

Os músicos contam que eram perseguidos e foram presos algumas vezes por causa da cultura punk, considerada rebelde e subversiva. Eles explicam como faziam para fugir da censura, adaptando as músicas. Vladimir de Oliveira, o Vlad, da banda Ulster, afirma que muitas vezes a mudança descaracteriza a canção.

“A censura sempre teve duas facetas: uma mais politicamente explícita e uma moral”, avalia José Rodrigues Júnior, o Mao, do Garotos Podres. Segundo ele, a censura moral respondia aos setores mais conservadores da sociedade.

Carlos Mariano Lopes Pozzi, o Pierre, do Cólera, afirma que apesar da repressão específica ao movimento punk, eles sabiam o que acontecia de forma mais ampla nos estertores do governo militar.

A tentativa de silenciamento de um movimento como o punk rock não era uma novidade no Brasil, mas há de se reconhecer que isso prejudicou o entendimento mais claro dessa expressão musical.

A black music tipicamente brasileira também sofreu um apagamento pelo regime e, de alguns anos para cá, o movimento tem sido explicado por meio de documentários e livros.

O filme Não É Permitido: um Recorte da Censura ao Punk Rock no Brasil abre, portanto, uma brecha para discutir outro movimento musical no País violentamente apagado da história.

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