Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Desmontes do Estado e do trabalho criaram descrença da periferia no voto, dia sociólogo
Tiaraju Pablo, pesquisador de áreas pobres dos centros urbanos, fala ainda sobre as barreiras do pensamento progressista nas favelas


O sociólogo Tiaraju Pablo analisa a periferia a partir de dois pontos: 1) o desmonte da sociedade salarial e dos direitos trabalhistas; 2) desmanche das políticas públicas
“Há uma dificuldade da população mais jovem fazer algum tipo de planejamento ao redor do mundo do trabalho”, diz. “Cada vez mais a precarização dos serviços públicos se abate diretamente contra população moradora das periferias que depende desses serviços”.
Para ele, os desmontes das políticas públicas e da sociedade salarial têm transformado a periferia urbana em um processo cada vez maior de crise social. “Tentam canalizar o discurso ideológico que a favela venceu”, afirma. “A favela não venceu, a favela perdeu”.
Pablo é doutor em sociologia pela USP e tem pós-doc na França. Publicou dois livros recentemente que tratam de questões relacionadas à periferia. É também músico, com dois discos lançados. Nascido e criado no extremo da zona leste de São Paulo, onde mora até hoje, tem vivência dos problemas que assola as áreas pobres da cidade.
Ele cita que o processo de descrença do Estado e do mundo formal do trabalho transformou o modelo de escolha dos representantes nas eleições. “As pessoas começam a votar naquelas pessoas que prometem destruir o sistema”.
Tiaraju Pablo é autor de 40 ideias de Periferia: História, Conjuntura e Pós-Pandemia (2020) e A Formação das Sujeitas e dos Sujeitos Periféricos: Cultura e Política na Periferia de São Paulo (2022). Lançou ainda os discos Capacetes Coloridos (2007) e Latinoamerisamba (2015).
“A musicalidade da periferia é algo notório e histórico”, cita. O sociólogo-músico lembra que o samba tocou muito nas periferias na época da redemocratização. “Na década de 1990, teve uma importância grande o rap porque foi o gênero musical que melhor soube cantar aquele genocídio que existia contra a população negra moradora das periferias”.
Sobre a atual hegemonia do funk, diz ser uma expressão musical de desenvolver temas. “É um gênero musical que quer cumprir os desejos muito rapidamente e isso tem relação com uma sociedade que possui dificuldade de prever o futuro”.
Para ele, o desmanche da cultura que ocorre há seis anos é “dramático” e lamenta os ataques aos artistas. “É importante que a classe artística se posicione. A gente precisa louvar a atitude política de uma série de artistas de diferentes classes sociais no sentido de defender a democracia em nosso País”.
“O pensamento progressista precisa dar mais vasão a um tipo de produção cultural que ocorre nas periferias urbanas”, ressalta. “Infelizmente, o pensamento progressista ainda está homogeneizado em um tipo de estética pequeno-burguesa que as pessoas da periferia têm dificuldade de entender, e essa hegemonia dificulta a luta popular. A gente precisa reconstruir o laço social”.
Assista a entrevista:
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