Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Desigualdade na indústria da música reflete a realidade do País

Livro apresenta pesquisas e discute a disparidade étnica e de gênero no setor

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Uma pesquisa desenvolvida com objetivo de analisar a situação de desigualdade racial e de gênero da indústria da música, especialmente no ecossistema da indústria fonográfica, como gravadoras, editoras, distribuidoras e agências, indica um quadro similar de disparidades com a realidade do Brasil.

O estudo, junto com discussões, análises e pesquisas em outros países, é apresentado no livro recém-lançado Diversidade na Indústria da Música no Brasil – um Olhar sobre a Diversidade Étnica e de Gênero nas Empresas da Música (Dialética Editora), de Leo Feijó, jornalista, produtor cultural com mestrado na University of London e autor de outros trabalhos na área de cultura.

No documento apresentado, alguns dados essenciais: do total pesquisado de organizações da música, 21,4% não têm negro em seus quadros profissionais; em apenas 16,1% das organizações as pessoas negras representam mais da metade da força de trabalho.

Outro dado alarmante, desta vez sobre as mulheres:  17,8% das empresas não têm ou têm no máximo 15% de seu quadro funcional ocupado por pessoas do sexo feminino. 

Em meio às outras pesquisas apresentadas na obra, além da realizada pelo autor do livro, um índice apresentado sobre o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad): entre os 100 compositores com maior receita de direitos autorais, em 2020, há apenas duas mulheres.

Música sertaneja

O capítulo dedicado a Éliton Nascimento, gerente de relacionamento com selos e artistas do Spotify, a principal plataforma de música no mundo depois do YouTube, é bastante esclarecedor. Negro, Nascimento era rapper antes de atuar em empresas da indústria. 

Tratando sobre mercado, ele cita a necessidade de se ter artista negro no sertanejo. O gênero concentra hoje parte expressiva da indústria (e do dinheiro) da música, com conexões fortes com o poderoso setor do agronegócio.

Um adendo do autor deste texto ao assunto: é preciso entender a indústria da música sertaneja como ente inseparável da cadeia do agronegócio, seja de forma direta ou indireta, por meio de agenciamentos e controle de veículos de massa, principalmente pelo interior do País.

O funk, por outro lado, sofre preconceito para investimentos, embora vários artistas do gênero tenham bilhões de acessos no YouTube, analisa o livro de Léo Feijó. Vale lembrar que funkeiros e rappers são, em sua maioria, negros e provenientes da periferia dos grandes centros urbanos. 

A indústria da música, para nenhuma surpresa, é um reflexo do que se vê em outros setores da sociedade, num País desigual e injusto. Vale observar, porém, na obra, aspectos específicos de como se processa o cenário da desigualdade na cultura. 

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