Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Dani Nega: Não me interessa fazer arte sem recorte de gênero e raça

A rapper e ativista dos movimentos negro e LGBTQI+ tem um trabalho musical forte sobre racismo, violência urbana e aculturamento

Foto: José de Holanda
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Dani Nega acaba de lançar um trabalho solo. Antes, a rapper havia apresentado dois álbuns com Felipe Julian, o Craca. Um saiu em 2016 e ganhou o Prêmio da Música Brasileira; e outro veio em 2018, mesmo ano que ganhou o Prêmio Profissionais da Música. 

“A gente resolveu juntar a pesquisa dele de música eletrônica e eu com a poesia recitada”, diz. “A gente fez uma fusão dessas duas linguagens”. Agora, a rapper segue o caminho musical sozinha.  

Dani Nega vem do slam. Participou e ainda participa de um dos primeiros fundados no Brasil, o Zap! (Zona Autônoma da Palavra), de discursos “superafiados” e “rasgantes”, como define. “É uma cena que me influencia muito”. Ela também é atriz de coletivos engajados de teatro.

A trajetória contribuiu para construir canções com temas sociais e políticos. “São grupos politicamente ativos, que estão sempre com discursos de protesto. Eu sou alimentada por isso”, afirma.“Mas acredito que falar de amor, autoestima, de festa, é também um discurso social e político, principalmente para gente que tem uma história de aculturação, em que nossos afetos foram roubados, de violência muito dura”.

O novo trabalho é um EP com quatro faixas – disponível nas plataformas digitais – em que fala de racismo, violência urbana e aculturamento. Como Noiz Quiser, a primeira faixa, com várias metáforas e métrica diferente para o rap, que aborda o genocídio da população preta. 

Sai Boy tem a participação de Ellen Oléria. “É minha experiência como mulher negra e lésbica. É uma cutucada nos boys chatos que acham que a gente é sapatão por falta do que eles têm no meio das pernas”, explica.

A faixa Espinhos, com participação de Alessandra Leão, fala sobre afeto e a defesa da mulher preta: “Resultado desse histórico de violência, dessa falta de afetividade, de autoestima”. É Foda É Fera É Bicho, a última faixa, trata da importância da palavra. 

Dani Nega diz que a pandemia deu uma travada em seu trabalho de composição. “Foi um período tão difícil para todo mundo, de desconexão com a nossa forma de criar”, diz. “O artista que dialoga com o seu tempo se relaciona com essas questões mais sociais e políticas. É o tipo de arte que eu acredito. O que não tem o recorte de gênero, de classe, de raça não é o tipo de arte que tenho vontade de produzir”.

Ainda sobe a pandemia, a rapper conta que sentiu muita falta da relação com o público. “Eu, que vim do teatro, essa coisa de ficar no palco, ver a galera entrando para assistir o espetáculo… Essa troca de fluidos para mim é muito mágica. Isso foi interrompido. Você enxergar o outro por uma tela de computador (referindo-se as lives) é uma coisa muita esquisita”, ressalta. “E também tem aquela coisa de não poder circular. Eu sempre fui muito ativa na rua. A rua, para mim, é ferramenta de produção”.

Assista a entrevista de Dani Nega a CartaCapital na íntegra:

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