Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Comparado a Cartola e Nelson Cavaquinho, Batatinha nascia há 100 anos
O sambista fez composições sensíveis e levou o samba da Bahia além de sua representação ligada às origens


Muito se fala do samba de roda do Recôncavo Baiano e de seu papel essencial na formação do samba moderno no Rio de Janeiro. Mas na capital baiana formou-se também um núcleo de sambistas que moldaram o gênero com características e influências urbanas.
Um deles foi Oscar da Penha, o Batatinha, que nasceu em Salvador em 5 de agosto de 1924 – portanto, há 100 anos.
Ele é um expoente da primeira geração do samba contemporâneo da Bahia, ao lado de Riachão, Gordurinha, Tião Motorista e Panela, todos já falecidos. Também manteve relação com representantes da segunda geração, fazendo parcerias musicais com Walmir Lima, Nelson Rufino, Edil Pacheco, Roque Ferreira e Ederaldo Gentil.
Batatinha morreu aos 72 anos. Seu samba se destacou pelo refinamento um tanto melancólico, mas observador do cotidiano. Teve composições gravadas por grandes artistas da Bahia – Maria Bethânia foi uma de suas maiores intérpretes – e de outros estados, como Eliana Pittman, Nora Ney, Chico Buarque e Beth Carvalho.
Trabalhou ao longo da vida como gráfico do jornal Diário de Notícias, até a aposentadoria. Tinha a caixa de fósforo como companheira de batucada.
Sua primeira composição gravada foi Jajá da Gamboa, registrada por Jamelão, em 1954. Entre suas músicas mais conhecidas estão Hora da Razão, Toalha da Saudade, Imitação, Diplomacia, Direito de Sambar e Ministro do Samba.
Deixou quatro álbuns gravados: Samba da Bahia (1973), com Riachão e Panela; Toalha da saudade (1976); Batatinha, 50 anos de samba (1996); e Diplomacia (1998), este com várias participações e que acabou sendo lançado um ano após sua morte.
Batatinha é um expoente do samba no País e, assim como boa parte dos que se destacam no gênero, teve forte influência afro-brasileira em sua abordagem. A diferença está no fato de ter sido mais contestador.
Na música Direito de Sambar (1973), a manifestação da resistência: “É proibido sonhar/ Então me deixe o direito de sambar/ Já faz dois anos que eu não saio na escola/ A saudade me devora quando vejo a turma passar/ E eu mascarado, sambando na avenida/ Imitando uma vida que só eu posso enfrentar/ Tudo é carnaval/ Pra quem vive bem, pra quem vive mal”.
O premiado documentário Batatinha e o Samba Oculto da Bahia (2007, 48 min.), de Pedro Abib, foi recentemente disponibilizado por seu diretor no YouTube. Trata-se de um ótimo filme sobre o sambista baiano.
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