Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Como a falta de dinheiro no bolso do espectador impacta a indústria da música

Mudanças no segmento com a crise econômica de 2015 perduram até hoje

Foto: Freepik

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Houve quem comemorasse nas redes sociais a volta das rodas de samba às ruas de bairros centrais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Romanticamente, diziam ser o retorno dos tempos em que o gênero era tocado em largos e praças para entretenimento de seus participantes.

Por trás desse aparente desapego, porém, escondia-se a falta de espaço para músicos se apresentarem em locais apropriados e a consequente crise econômica. Se os cachês do mainstream foram congelados ou caíram drasticamente em meados da década passada, imagine para aqueles que vivem de tocar em modestas casas noturnas e bares.

Frequentadores, percebendo que podiam gastar muito menos em eventos musicais na rua, com cerveja a preço de boteco na esquina, se distanciaram ainda mais dos estabelecimentos convencionais. Produtores de casas noturnas do Rio e de São Paulo reclamaram da concorrência desleal.

Outro fato curioso observado na indústria da música a partir da crise de 2015 foi a diminuição do número de instrumentistas em bandas de artistas do mainstream – menos músicos, menos gastos com produção. Mega artistas, que antes subiam ao palco com uma dúzia de instrumentistas, têm sido bastante econômicos nesse quesito.

Há quem atribua o surgimento de muitos cantautores (compõem e cantam) por causa da internet (à la Billie Eilish): no seu quarto. O músico sentava de frente à câmera de gravação com seu violão e mandava ver, para depois subir o registro em uma rede social.

Pode até ser, mas naquele período duro no Brasil nunca foi tão apropriado se vender no formato mínimo, em meio à resistência por projetos musicais robustos e com riscos de não se pagar.


Artistas mais conhecidos formataram shows em duplas (cada um tocando seu próprio instrumento), sem bandas de apoio e com custos de produção bem menores – algo, aliás, perdurado até hoje.

A Covid-19 veio e o quadro se tornou ainda mais agudo – de artistas pedindo ajuda nas redes sociais à venda de instrumentos de trabalho.

O pós-pandemia tem sido de recuperação. Os festivais voltaram e são a tábua de salvação para alguns. Mas a reativação do setor vai depender de mais dinheiro em circulação.

O preço exorbitante de passagens aéreas é reclamação frequente do meio artístico e impede shows e projetos em lugares diferentes, algo imperioso para conquistar público.

O aperto no bolso do frequentador de música ao vivo segue. Os preços de ingressos de shows do mainstream voltaram a patamares proibitivos. E a cena musical de base ainda tenta se reerguer.

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