Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Choro é o gênero em que a música brasileira encontra seu virtuosismo

Neste sábado 23 é comemorado o Dia Nacional do Choro, gênero que é revolucionário, como fica claro no trabalho do grupo Chorando as Pitangas

Ilustração de Álvaro Martins
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Foi da fusão do lundu, a base de percussão afro-brasileira, com a polca, a valsa e outros gêneros em evidência na época, que o choro floresceu na segunda metade do século XIX – uma associação espetacular que formou não somente um gênero instrumental, mas a própria raiz da música brasileira.

Joaquim Callado (flautista), Patápio Silva (flautista), maestro Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga (piano), Ernesto Nazareth (piano), Pixinguinha – o maior de todos (nasceu em 23 de abril e por isso o Dia do Choro), João Pernambuco (violão), Quincas Laranjeira (violão), Luperce Miranda (bandolim) e João da Baiana, que embora seja identificado como sambista, foi fundamental na introdução do pandeiro nas rodas de música da época. 

Esses instrumentistas essenciais presentes pouco antes e pouco depois da virada do século XIX para o XX, e mais uma centena de músicos que os cercavam e eram tão virtuosos quanto os citados, fizeram a combinação que solidificou o choro como uma arte musical tipicamente nossa.

Os chorões, que quando reunidos eram chamados de grupo regional (relação com a música regional), composto por cavaco, violão, pandeiro e mais bandolim, piano e sopros (flauta, saxofone), tocavam em bares, festas populares, aniversários, em teatros e até em baile da elite. 

Influência

Eles frequentavam rodas de samba, ainda no embrião, nas casas das tias baianas. Foram depois para o rádio. Eram pessoas do povo, de origem humilde, muitos autodidatas. Não só eram exímios músicos, mas arranjadores e compositores. Improvisaram como ninguém, uma característica em geral dada somente a quem tem talento.

Passaram a acompanhar grandes cantores da época, como Carmem Miranda e Francisco Alves. E isso perdura até hoje. Alguns artistas do primeiro time, não só do samba, mas da MPB, mantêm sua base de músicos com chorões e até mesmo já fizeram trabalhos com um conjunto inteiro.

Músicos de choro são excelentes instrumentistas, leem partituras, têm linguagem musical própria dando um caráter no acompanhamento bastante peculiar.

Esse pessoal influenciou desde sempre a cultura e é responsável pela definição da raiz da música brasileira. Isso não quer dizer que o próprio choro não tenha mudado ao longo do tempo, com grupos experimentando a inserção de novos instrumentos no meio, como acordeon, surdo e violino.

O Chorando as Pitangas, que lançou seu terceiro disco recentemente, chamado Terceira Dose, é uma prova disso. O grupo é composto por Gian Correa (violão de sete cordas), Ildo Silva (cavaquinho), Milton Mori (bandolim), Roberta Valente (pandeiro) e Vitor Lopes (harmônica ou gaita – está aí um instrumento inserido no choro ao longo do tempo, dando-lhe multiplicidade musical em solos plurais).

O disco mostra o caminho renovador do choro, nas composições próprias de integrantes do Chorando as Pitangas e dos participantes, como do violonista Ricardo Hertz e do grupo Barbatuques, que em duas faixas introduzem percussão corporal no choro, como assobios, toques das mãos, palmas, sons com a boca e vocalizes. O álbum ainda tem a participação do guitarrista Chico Pinheiro. 

O choro sempre teve linguagem inovadora e virtuosa, como Pixinguinha tão bem propôs há um século.

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