É antiga a prática de municípios de pequeno porte contratarem artistas de diferentes gêneros musicais, pagando altos cachês. Esses eventos são muitas vezes a principal fonte de fomento do turismo local.
Para o comércio, é uma oportunidade rara de aumentar o faturamento. Mas quem paga a conta é a prefeitura, às vezes salgada, para atender empresários locais geradores de emprego. Vale a pena?
O gesto do administrador público costuma cair bem para o empresariado local. A política do pão e circo funciona junto à população desde o Império Romano – não falharia com Gusttavo Lima em cima do palco numa cidade do interior de Minas.
O duro é que quando se chega perto para escarafunchar como a prefeitura lida com as manifestações artísticas locais e seu patrimônio histórico descobre-se que o que está se gastando com atrações sertanejas de fora da cidade, num festejo de uma semana, representa mais de 10% do valor do orçamento dedicado à cultura no ano – como é o caso de Conceição de Mato Dentro.
É bastante indiferença e insensibilidade num País em crise profunda, com uma população com carência de toda natureza e onde as prefeituras vivem com déficit fiscal. E a política cultural local, como fica neste cenário? Provavelmente às minguas.
É mais cômodo politicamente convidar artistas do mainstream para um show do que fomentar ações estruturantes de cultura – este último dá trabalho e exige longos processos de intermediação local, embora este seja o papel do Estado.
Ações estruturantes de cultura local envolvem estímulo ao protagonismo da comunidade, promoção e consolidação da arte existente, facilitação e acesso à produção cultural originária e preservação e estímulo à cultura no âmbito daquela comunidade.
O que fez a prefeitura da cidade histórica de Conceição de Mato de Dentro é prática recorrente por aí. Tanto que outros escândalos parecidos seguem surgindo. Em tempos de banalização e perseguição à arte, fica a sensação de que o modus operandi da cidade mineira é o fundo do poço da política pública na cultura.
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