Otacílio Batista, uma História do Repente Brasileiro (Editora Acorde, 230 páginas) chegou ao Kindle, depois ser lançado no formato físico em setembro de 2023, ano em que o repentista completou o centenário de nascimento.
O pernambucano nascido no atual município de Itapetim, no Sertão do Pajeú, onde a arte da cantoria é uma das principais representações, viveu do repente, passando por diversas fases do gênero.
Os cantadores de poesia dita de improviso, a partir de um tema ou de um mote, eram mal vistos no meio rural, que os estigmatizava como andarilhos e pedintes.
A situação só mudou no final da década de 1940, com a intelectualidade reconhecendo a poesia das zonas rurais, além do impulso da arte pelo rádio, como o livro sobre Otacílio relata.
Sandino Patriota, jornalista, pesquisador da Universidade Federal do ABC e neto do repentista, é o autor da obra, que percorre a história dessa cultura oral a partir de Otacílio Batista. Quando o avô morreu (agosto de 2003) aos 79 anos, Sandino tinha 18.
Pai de 10 filhos, o repentista viveu pelo interior e foi parar em Tabuleiro do Norte, no Ceará, onde tornou-se político, até ir para Fortaleza e depois para João Pessoa, nos anos 1970, seguindo o fluxo do conhecido êxodo rural do Nordeste para as capitais.
Período, aliás, em que o repente teve de se adaptar e mudar para uma linguagem mais urbana do cotidiano, da realidade e da natureza circundante.
Sagaz e carismático, Otacílio se destacava nas rimas dos versos poéticos, nas diferentes métricas, apresentadas em pelejas – os duelos entre repentistas.
Cada passagem no livro é marcada por contextualização social e política do País e do Nordeste, porque não só influenciou a vida dos cantadores, mas também a sua temática musical.
Otacílio Batista ganhou festivais de cantadores e lançou 12 discos de repente em dupla e solo. Também publicou livros de poemas e canções, além da obra Antologia Ilustrada dos Cantadores (1976; 1ª edição), escrita com Francisco Ferreira Linhares e uma referência sobre cantadores.
Os registros fonográficos e os livros solidificaram a obra de Otacílio, que poderia ter sido mais um (ótimo) cantador desconhecido dos rincões do País se não fossem essas evidências documentais.
Além disso, Zé Ramalho produziu seu primeiro disco, e sua canção com o refrão “mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor” se tornou sucesso na voz de Amelinha.
A biografia é um momento para conhecer a evolução da cantoria da zona rural nordestina, com suas poesias ligadas a costumes e comportamentos de várias épocas – contraditórias, por vezes, aos olhos de hoje, mas nada muito diferente da evolução de outros gêneros musicais, que também enfrentam dilemas com as suas letras não tão politicamente corretas.
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