Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Após elogios no exterior, Delia Fischer lança um disco gravado em inglês
A cantora teve dois álbuns indicados ao Grammy Latino; um deles ganhou 5 estrelas da ‘DownBeat’, publicação referência do jazz


O primeiro álbum de Delia Fischer, Antonio (1999), todo instrumental e de composições ao piano, saiu por um selo no exterior com a produção de Egberto Gismonti. “Era uma homenagem ao meu filho, que estava na barriga”, relatou a CartaCapital . “Gismonti me falou claramente: ‘lançando esse disco, para virar na carreira internacional, vai ter que dispor de alguns meses na Europa.’” Como o filho ia nascer, porém, teve de se recolher no Brasil.
“Então, a reflexão que faço é de como é muito mais complicado para uma mulher, cantora, compositora, instrumentista, produtora. Perdi o primeiro bonde de me dedicar à carreira internacional por causa disso. Depois de 25 anos, estou resgatando esse desejo.”
A redenção veio com Delia Fischer Beyond Bossa, disco autoral gravado em inglês e recém-lançado pelo selo americano Origin Records. O trabalho nasceu depois de o álbum Tempo Mínimo (2019), com composições de Delia, ganhar cinco estrelas em uma resenha da importante publicação americana DownBeat, uma das principais do mundo do jazz.
À época, o disco havia sido indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira – a mesma indicação que ela recebeu com Hoje (2021).
“A gente ficou extasiado (com as 5 estrelas). Entrei em contato com o jornalista (Allen Morrison) que tinha me dado essa pontuação. Ele tinha adorado o disco”, relembra.
O crítico, que também é músico, achava que ela deveria traduzir suas músicas para o inglês. No fim, Morrison fez a versão em inglês das obras de Delia Fischer.
“A gente partiu do álbum Tempo Mínimo para fazer o Beyond Bossa, com uma ou outra música diferente”, diz. O álbum recém-lançado tem diversas participações.
“Eu entendi esse disco com uma necessidade de ter embaixadores. Mario Biondi foi a primeira pessoa que convidei. Ele é um cantor italiano de soul mas que ama a música do Brasil e já gravou vários compositores brasileiros. Ele fez um disco chamado Brasil.”
O disco de Delia conta ainda com as participações de Gretchen Parlato, cantora americana de jazz que tem na bagagem várias músicas brasileiras gravadas; de Luciana Souza, cantora brasileira que mora nos Estados Unidos há 30 anos; do guitarrista Chico Pinheiro; do instrumentista Pretinho da Serrinha; do cantor Matias Correa (marido de Delia); do cantor e parceiro Marcio Nucci; do violoncelista americano Eugene Friesen; e do grupo vocal New York Voices.
“Marcos Valle (que também gravou no disco) eu coloco em um lugar diferente. Ele é um mestre para mim. Consegue ser ativo, criativo e atuante aos 81 anos. É moderno, contemporâneo”, afirma. “A gente tem muito complexo de vira-lata. ‘O brasileiro é pior, bom é o gringo’. Quando na verdade, em termos de música popular, a gente está anos-luz à frente. Falo isso com total conhecimento de causa.”
Delia Fischer é também diretora e produtora premiada no teatro, com uma série de musicais realizados. Um dos mais conhecidos e que ela considera um marco é Elis, a Musical.
Assista à entrevista de Delia Fischer a CartaCapital:
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