Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Antienredo, Bum Bum Paticumbum Prugurundum fez história há 40 anos

Documentário mostra como um desfile simples e um samba poderoso com crítica ao modelo comercial das escolas venceram o carnaval de 1982

Foto: Reprodução
Apoie Siga-nos no

Dizem que quando o samba é bom, já é meio caminho andado para chegar à frente na apuração do desfile. No caso do Bum Bum Paticumbum Prugurundum (“formidável onomatopeia” da batida do surdo, disse na época o poeta Carlos Drummond de Andrade), talvez tenha sido mais do que isso. 

O samba-enredo já estava na boca do povo antes do Império Serrano entrar na avenida, num tempo em que se ouvia com antecedência as músicas escolhidas pelas escolas para desfilar na passarela do samba. 

No fim, a agremiação de Madureira venceu o principal desfile carnavalesco do Rio de Janeiro, com apresentação sem grandes luxos, aproveitamento estético máximo do simples, muita garra dos componentes, exaltação na arquibancada e, curiosamente, um samba-enredo bem construído, mas com crítica ao modelo vigente do próprio desfile – um antienredo.

O documentário Bum Bum Paticumbum Prugurundum – 40 anos exaltando gente bamba (52 min.), de Emerson Pereira, mostra todo o processo difícil que vivia na época a Império Serrano, quase tendo caído para o grupo de acesso, além da escolha do enredo onomatopeico, os problemas para colocar uma escola sem dinheiro na avenida, a precariedade vigente e o desfile na raça com auxílio massivo do público cantando o samba inesquecível.

O filme é basicamente de relatos, mas bem editados, dinâmicos e representativos – de certa forma, os depoimentos também mostram as inúmeras deficiências e dissabores para fazer um desfile de carnaval, ao contrário do que se vê no dia da folia pela televisão.

O carnaval vencedor de 1982 do Império Serrano foi assinado por Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, que falam no documentário. Há vários casos contados, de sambistas ligados à escola, de como de um momento complexo a agremiação chegou ao ápice.

Superescola de samba S/A

O samba-enredo Bum Bum Paticumbum Prugurundum foi composto por Beto Sem Braço e Aluísio Machado. É preciso dizer que os dois já circulavam com desenvoltura pelas rodas de samba do Rio. Beto Sem Braço, inclusive, tinha Zeca Pagodinho como um dos melhores amigos.

O samba marcante começa com a alegria do carnaval: “Enfeitei meu coração/ De confete e serpentina”. Vai ao local das origens do samba urbano (“Oh! Praça Onze tu és imortal”) e explica como surgiram os instrumentos do gênero: “De uma barrica se fez uma cuíca / De outra barrica um surdo de marcação”.

Depois, segue com a construção da cultura popular brasileira: “Pedem passagem pros moleques de Debret (referência às pinturas do negro pelo francês no país e o festejo antecedente ao carnaval)/ As africanas — que quadro original”. O sincretismo religioso: “Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual”. 

Volta à alegria: “Vem meu amor, manda a tristeza embora/ É carnaval é folia neste dia ninguém chora”.

A crítica com os rumos empresariais dos desfiles já naquela época: “Superescolas de samba S/A, superalegorias”. E vai mais fundo: “Escondendo gente bamba, que covardia” – a citação ao bamba que, de fato, é o grande personagem do carnaval, e não as celebridades de ocasião.

Bum Bum Paticumbum Prugurundum sintetiza muito bem o carnaval. O documentário explica como isso se formou até chegar ao desfile.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo