O título do novo disco de Anelis Assumpção é direto e curto: Sal. Segundo a artista, é para ser entendido e compreendido rapidamente. “Sal é tudo que o disco quer dizer”, afirma Anelis, destacando a força do elemento.
“Fazer um disco [no meio da pandemia] depois da experiência que cada um viveu, sentindo suas particularidades, que foi atravessar esses anos, é incomparável com qualquer coisa que eu tenha feito antes”, diz. A cantora e compositora conta que as pessoas foram “forçadas a criar novos entendimentos” nesse período difícil. “O entendimento de afeto que a gente tinha também se renovou. A gente se viu capaz de desenvolver empatia, afetuosidade pelas pessoas sem o toque, sem estar no bar e tomar cerveja junto”.
O quarto álbum solo de Anelis Assumpção foi gravado justamente nessa nova realidade, em que as relações do novo trabalho se desenvolveram muitas vezes no ambiente virtual. Para essa construção, convidou muitas mulheres para produzir e participar das faixas desse ótimo disco.
Da sua geração estão artistas como Céu, Iara Rennó, Luedji Luna, Mahmundi e Thalma de Freitas. No grupo daquelas que estão despontando agora, surgem no disco nomes como Jadsa, Josyara, Larissa Luz e Maíra Freitas.
A artista destaca que, dentro da história fonográfica no País, mulheres galgarem espaço como compositora e produtora não é tão simples, como foi proporcionado no álbum Sal. “Foi muito gratificante”, cita Anelis.
A cantora conta também que no período da pandemia a adaptação à tecnologia foi fundamental. “A gente teve que aprender rápido, a dominar a live. Nunca imaginei isso”, disse.
Por outro lado, Anelis ressalta que muita gente teve que sair do mercado da música por conta do momento pandêmico. “Eu continuo adorando estúdio, tem uma importância imensa, mas de certa forma só quem tinha lugar de poder conseguiu se manter”, afirma sobre o fato de locais de gravação terem fechado por conta das restrições da Covid-19.
Museu virtual
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelo meio artístico por conta não só da pandemia, mas também do sucateamento da cultura promovida pelo governo anterior, Anelis parece ter produzido um milagre no período: inaugurou no dia da Consciência Negra de 2020 o museu virtual de seu pai, Itamar Assumpção, – acessível aqui: https://www.itamarassumpcao.com/
Trata-se do primeiro museu virtual de um artista negro no Brasil. Lá, constam milhares de itens digitalizados do artista, incluindo letras de música, canções, acervo de indumentária, objetos, fotografias, hemeroteca, cronologia.
Como bem diz Anelis, embaixo do guarda-chuva de Itamar Assumpção estão muitas camadas, como expressão musical, literatura, poesia, produções periféricas, mercado independente e paralelo. Portanto, merecedor de se ter sua memória bem guardada.
“A história do Itamar, independente da identificação musical ou não com ele, é uma trajetória de um corpo dentro da cultura brasileira, um marco de mudança muito importante. É político, é social. É científico. Não é só uma homenagem”, diz. “Tem um marco de diversas ações que atravessam toda obra do Itamar por seu um retinto, por ser do interior de São Paulo, por ser autodidata”.
Assista a entrevista de Anelis Assumpção a CartaCapital na íntegra:
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