Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Alguns estão no samba ou funk, mas não sabem o que isso representa, diz sociólogo
Mestre em mudança social e participação política, Tadeu Kaçula afirma que a direita ocupa o espaço nas periferias onde a esquerda perdeu bases


O sociólogo Tadeu Kaçula descreve como é “complicado” discutir o candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, em conversas na periferia. “A esquerda não está fazendo essa disputa de narrativa, de olhar crítico”, afirma Kaçula, mestre e doutorando em Mudança Social e Participação Política pela USP e coordenador executivo da Universidade Livre Afro-brasileira.
Para ele, , a esquerda deixou de manter organizações de base ativas e conectadas nas periferias, e os diretórios municipais estão esvaziados, incapazes de construir uma narrativa política consistente.
“Perdeu-se muito a agenda de formação progressista nas quebradas”, acrescenta, pontuando que isso abriu espaço para o avanço da direita nessas localidades, atingindo espectros ligados ao samba, ao funk e ao slam (batalhas de poesia).
“São microcosmos importantes para o trabalho de base, para que, quando a eleição chegar, o sambista, o funkeiro, o slammer, o rapper, o pessoal das matrizes africanas, as capoeiras, enfim, todos os organismos que formam pilares na periferia, saibam que não dá para ceder espaço para uma agenda de direita e extrema-direita”, explica.
Kaçula avalia, no entanto, que não se pode dizer que o movimento funk apoia candidaturas da direita e extrema-direita. “Eles sabem o que essas pessoas pensam sobre política pública, principalmente na área de segurança, que é muito enviesada contra a periferia, perseguindo jovens que promovem a cultura do funk”, destaca.
O sociólogo tem uma relação forte com o mundo do samba e possui alguns livros publicados sobre o tema. “As escolas de samba e as rodas de samba são os espaços mais democráticos que temos no Brasil. São um modelo a ser seguido para pensar uma estrutura social”, afirma, destacando que existem pessoas de direita e esquerda nesses ambientes.
Historicamente, o samba é marcado pela resistência e denúncia de nossas mazelas, assim como o próprio funk e o rap, embora esses movimentos sejam bem mais recentes.
“As pessoas às vezes estão nesses espaços, mas não entendem absolutamente nada do que isso representa”, ressalta.
Em uma escola de samba, ele lembra que, por vezes, um presidente pode declarar apoio a um candidato de direita ou extrema-direita, mas isso não significa uma posição generalizada dentro daquela agremiação – embora alguns candidatos, como estratégia de campanha, tentem sugerir que isso se estende a todo o movimento.
“Nesse cenário, não dá para dizer que os sambistas independentes, as comunidades de samba de São Paulo, as velhas guardas, as alas de baianas, as baterias, as comissões de frente, as alas de passistas, as harmonias, esses segmentos que são a alma das escolas de samba, estão alinhados com a extrema-direita”, diz, acrescentando que há muita gente com consciência política nesses espaços.
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