Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Álbum reúne obra inédita do Mestre Manelim com toque de viola na sua essência

Disco recém-lançado do violeiro do Sertão do Urucaia, em Minas Gerais, mostra autenticidade

Foto: Divulgação
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O dedilhar é firme. O instrumento harmônico ganha peso percussivo. O som é rústico, generoso e abundante. Da viola do Mestre Manelim se projeta a vida sertaneja do Brasil interiorano ainda inebriado de autenticidade.

O álbum recém-lançado do violeiro Deixa a Viola Me Levar (Selo Sesc) lembra a dimensão da viola na sua essência e relevância nos rincões do País.

Manoel de Oliveira, o Mestre Manelim, morto em 2020, representa em suas composições seu universo entre a natureza, tradições e crenças.

Os violeiros e pesquisadores Paulo Freire e Cacai Nunes se juntaram para produzir o citado álbum com gravações inéditas. São, no total, 17 músicas no disco, duas de domínio público e as restantes de Seu Manoel.

Cacai, num projeto extenso sobre viola caipira, fez minidocumentários de vários violeiros, incluindo Mestre Manelim. Na ocasião, fez registros do artista tocando suas músicas. Quatro faixas do disco originaram-se desses registros.

Já o envolvimento de Paulo Freire com o violeiro vem de longa data. Na segunda metade dos anos 1970, absorvido pela obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, ele viajou para o Sertão do Urucuia, em Minas Gerais, onde se ambienta o romance e lá conheceu e passou a conviver com o Seu Manelim.

“Já no primeiro encontro, percebi que ali havia um mundo. Seu jeito de tocar viola, as músicas ligadas aos fenômenos da natureza, o ponteado bonito, também doce e firme. Encostei nele, no encaminhamento que um discípulo procura no mestre”, conta Freire em texto que escreveu para o disco.

“Trabalhava na roça de dia, com toda a família, e de noitinha ponteávamos a viola no terreiro da casa. Lá vinham os toques de viola da inhuma, lagartixa, papagaio, a corrida do sapo e o veado, o lundu, as toadas de (Folia de) Reis, São Sebastião, o agradecimento à mesa, o São Gonçalo. Um universo se abria para mim, com uma força e encantamento dignos do Grande Sertão”, relata.

Em 2006, Paulo Freire produziu o primeiro disco do Manelim chamado Urucuia. Em 2012, aproveitando uma passagem dele em Campinas, foram a um estúdio de um conhecido e gravaram algumas músicas do mestre – oito delas acabaram entrando nesse disco recém-lançado.

As cinco músicas restantes que entraram no álbum Deixa a Viola Me Levar saíram de um projeto em que envolvia outro pesquisador e violeiro: Roberto Corrêa.

Assim, saiu o disco de inéditas de Mestre Manelim, que teve o trabalho essencial de André Magalhães na masterização do disco. Guto Roucco foi o diretor de produção.

O álbum é expressivo e dá ideia exata da representação da viola na sua concepção original de domínio do instrumento pelos cantadores do Brasil profundo.

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