Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Álbum póstumo inédito celebra as várias pontas de Gal Costa
Gravado em 2022, durante o Coala Festival, o show aconteceu apenas dois meses antes da morte da cantora


Um álbum ao vivo inédito de Gal Costa chegou nesta sexta-feira, 17, às plataformas de música. Gravado no dia 17 de setembro de 2022, durante o Coala Festival, o show aconteceu apenas dois meses antes da morte da cantora, em 9 de novembro daquele ano, aos 77 anos.
Lançado pela Biscoito Fino, As Várias Pontas de uma Estrela (Ao Vivo no Coala) sai no ano em que Gal completaria 80 anos. O registro também pode ser visto em formato audiovisual no YouTube.
Trata-se de um indefectível passeio pela obra da cantora. A gravação tem participações de Rubel e Tim Bernardes – excelente cantor, que impõe seu talento em três canções.
Com banda enxuta — Fábio Sá (baixo), Limma (teclados) e Vitor Cabral (bateria) — e produção de Marcus Preto, o show condensa décadas de invenção, sensibilidade e risco.
Gal abre as 20 faixas do álcum com Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) e segue com Hotel das Estrelas (Duda Machado e Jards Macalé), o primeiro clássico tocado do inesquecível disco Fa-Tal (Gal a Todo Vapor), álbum revolucionário e consolidador da cantora.
Na sequência, vem Divino Maravilhoso (Gilberto Gil e Caetano Veloso), hino tropicalista e grito de resistência contra a ditadura. O setlist então avança pelos anos 1980 com Dom de Iludir (Caetano Veloso), e chega a fases mais recentes, como Quando Você Olha pra Ela (Mallu Magalhães), do álbum Estratosférica (2015), e Palavras no Corpo (Silva e Omar Salomão), de 2018.
Os anos 1980 voltam em plena força com A História de Lilly Braun (Edu Lobo e Chico Buarque), Açaí (Djavan), Lua de Mel (Lulu Santos) e Sorte (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos).
O repertório reencontra Fa-Tal em Como 2 e 2 e Tigreza (ambas de Caetano Veloso), interpretadas com Rubel, e em Negro Amor (Bob Dylan, em versão de Péricles Cavalcanti e Caetano), num dueto denso e delicado com Tim Bernardes. Ele também brilha em Vapor Barato (Jards Macalé e Waly Salomão), com voz e guitarra arrebatadoras, e volta ao palco junto de Rubel para Baby (Caetano Veloso), síntese perfeita da Tropicália.
O encerramento, com Um Dia de Domingo (Michael Sullivan, Mihail Plopschp e Paulo Massadas) e Brasil (George Israel, Nilo Romero e Cazuza), traz um sabor agridoce: a celebração de um país e de uma voz que o traduziu como poucas. Brasil, em especial, soa atualíssima — como se Gal, em 2022, cantasse ainda o que o país insiste em ser.
Mais que um álbum, As Várias Pontas de uma Estrela é um bom registro memorialístico. Gal Costa, presente!
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.