Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Alaíde Costa quer ser lembrada na MPB como cantora que não fez concessão

Aos 86 anos, cantora lança ‘O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim’, com canções feitas para sua voz, com produção de Emicida e Marcus Preto e direção de Pupillo

Foto: Ênio Cesar/Divulgação
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As canções foram compostas ou entregues especialmente para Alaíde Costa gravar. E não foram quaisquer compositores, mas o primeiro time da música brasileira. A cantora de 86 anos trata seu novo trabalho como “uma homenagem”.  Sem dúvida, é.

“Fiquei muito surpresa com o carinho. Fiquei lisonjeada e muito feliz”, diz Alaíde a CartaCapital. “Vou seguir mais um tempinho, se Deus me der tempo, para divulgar essas canções belíssimas que eu tive o privilégio de receber”.

São oito faixas: Turmalina Negra (Céu e Diogo Poças), Nenhuma Ilusão (Fátima Guedes), Tristonho (Alaíde Costa e Nando Reis), Berceuse (Guilherme Arantes), Pessoa-Ilha (Ivan Lins e Emicida), Praga (Erasmo Carlos e Tim Bernardes), Aos Meus Pés (João Bosco e Francisco Bosco) e Aurorear (Joyce e Emicida).

“A cada canção procurei analisar o que autor quis dizer. Sempre procurei na minha carreira traduzir o que o compositor quer passar para as pessoas”, conta  a artista, ressaltando que, neste novo disco, as letras e melodias foram “maravilhosas”.

Produzido por Emicida e Marcus Preto e com direção artística do talentoso Pupillo, o álbum O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim é mais um trabalho que entra na lista dos melhores do ano. Surpreende a forma com que se resgata a sonoridade dos conjuntos de baile, onde Alaíde Costa começou na década de 1950 como crooner, atualizando e modernizando-a.

“Antigamente, até os anos 1970 e 1980, se gravava a orquestra, com cantor, todo mundo presente. Agora é diferente”, ressalta.

Os anos de luta

“Foi uma surpresa para mim. São belíssimos os arranjos”, diz. Alaíde não conhecia Pupillo pessoalmente até entrar no estúdio para gravar o disco.

Para ela, “o disco representa um final feliz depois de tantos anos de lutas, para ser homenageada por gente jovem”. E a batalha foi árdua, em um sistema que costuma empurrar os artistas para a música comercial.

“Gostaria de ser lembrada na MPB como uma cantora que acreditou no que fazia, que nunca foi chegada às concessões e sempre fez o que acreditou”, afirma. Alaíde tem mais de 20 discos lançados e compôs com a nata da Bossa Nova, gênero no qual foi grande intérprete.

“Acredito que saí vitoriosa. Não fiz as concessões e estou aqui até agora. Diziam-me, grava isso, grava aquilo, coisas que não tinha nada a ver comigo. Não que quisesse ser a melhor, mas não era o que tinha a ver comigo”.

A cantora conta ainda, sem pestanejar, que não viu vantagem nenhuma em cantar o que sempre desejou. “Não tive vantagem, mas fiz o que quis”. A sensação é boa, segundo ela, embora tenha sido prejudicada no lado financeiro.

“Nunca ganhei dinheiro assim com música. Mas isso não me incomoda porque artisticamente fiz o que queria. Não me arrependo e faria tudo de novo”, diz.

Agora, a cantora espera que o novo álbum seja ouvido por uma nova geração – deveria ser, pois o disco O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim é da grandeza de sua história.

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