Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

‘A música é o canal para mostrar à favela que é possível ser exemplo’, diz Lukinhas

Nascido e criado na comunidade de Asa Branca, no Rio de Janeiro, artista tem composição com Gloria Groove, Jorge Aragão e Iza

Foto: Alex Santana/Divulgação
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Até os 18 anos, na comunidade Asa Branca, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, Lukinhas frequentou a igreja Assembleia de Deus, onde seu pai era pastor. Com o tempo, passou a integrar o grupo musical da congregação.

“Igreja nem sempre tem músicos para tocar todos os instrumentos. Daí, eu estava na bateria, no violão, no baixo”, conta em conversa com CartaCapital

Mas sua ligação forte mesmo foi com o violão. Logo que fez 12 anos, ganhou um de seu pai junto com uma revista daquelas com cifras que ensina a tocar. A primeira música que tirou foi Garçom, sucesso de Reginaldo Rossi.

Mais adiante, aos 15 anos, começou a trabalhar e se tornou design gráfico. Fez freelas, passou por uma gravadora gospel e uma gráfica. “Onde tinha uma porta aberta para trabalhar, eu trabalhava. Não queria ficar pedindo dinheiro aos meus pais. Até porque a situação deles era bem apertada”, revela – seu pai também era pedreiro e sua mãe, faxineira.

A noite, no tempo livre, dava canja cantando de graça. Pulava de barzinho em barzinho. Em casa, às escondidas, ouvia hip hop. Na casa do avô, seu vizinho, ele colava o ouvido para escutar pagode.

De bar em bar

Aos 18 anos, se afastou da igreja e foi viver de música para valer. “Por mais que goste de design, minha paixão é a música”, diz. “Comecei a fazer barzinho, aprender novos repertórios”. 

No barzinho, diz ter que agradar o máximo possível. “Não era uma galera que vinha para o barzinho para me assistir. Tinha que cantar um pouco de pagode, rap, MPB, sertanejo”, conta. Quando o cachê era magrinho, dispensava a banda e fazia a apresentação a base de voz e violão.  

Tudo mudou quando no início de 2020 participou da música Pipa Voada, lançada por Rashid, que também contou com Emicida. A aproximação com os já badalados Rashid e Emicida foi feita por Ruxell e Pablo Bispo, que os trouxeram para o selo pop Inbraza, da Som Livre.

Por conta do sucesso estrondoso de Pipa Voadora, saiu da favela de Asa Branca onde se criou, alugando um apartamento não muito longe dali, na Taquara. “Mas não me acostumei e logo voltei para comunidade. A favela falou mais alto”.

Depois, veio seu primeiro EP na carreira solo, chamado 100 Neurose. Lançou outros trabalhos e singles, como Sol da Favela, em que exalta a mulher preta tomando sol na favela, e Posturada, apresentada neste ano.

Agora, aos 27 anos, trabalha para apresentar um álbum inteiro falando de amor: “Lá na favela onde moro tem essa coisa de ser forte, nada abala. Falando com a galera, eu disse que posso falar de amor do favelado, do cria (criado na favela). O cria sofre, mas também ama”. 

Em paralelo, Lukinhas, que reúne na sua música rap, trap, eletrônica e MPB, tem trabalhado a carreira de produtor e compositor. Ele assinou algumas composições no último álbum de Gloria Groove e já tem parceria com Jottapê, Rashid, Jorge Aragão e Iza. O violão é o companheiro nas criações musicais.

“A comunidade (de Asa Branca) me abraçou. Batem na porta de casa quando sai uma matéria. Não adianta só eu da comunidade sair ganhando. Se tem algum tipo de holofote em cima de mim, eu quero que esse holofote ilumine quem está no início comigo”, diz, citando alguns nomes que têm ajudado a impulsionar a carreira. 

“A música é o canal para mostrar para galera da rua da favela que é possível ser exemplo da comunidade, da coisa certa”, conclui. 

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