Os violeiros autodidatas seguem importantes e reverenciados. Eles representam a face mais tradicional da música caipira. Rafael Cardoso e Aniela Rovani bebem dessa fonte, mas também agregam a formação acadêmica no som que produzem.
O casal vive hoje na área rural de Atibaia, interior de São Paulo, onde plantam e criam animais para consumo próprio. Esse contexto e a natureza são suas inspirações nas músicas que compõem.
Os dois, alguns dias atrás, venceram o Festival Causo e Viola, um dos mais importantes de música caipira do País, cujo regulamento impõe que os inscritos se apresentem com dueto vocal no formato violão e viola, preservando a estrutura musical do gênero.
Não é a primeira vez que ganham concurso. Eles levaram prêmio de melhor música no II Festival da Canção Brasileira do Sesi, em 2019, e já foram finalistas de alguns outros.
“A gente olha para música caipira com a formação que tivemos. Um pouco diferente do que é o tradicional, que é ouvindo em encontros de gerações. Somando tudo que a gente estudou, acaba propondo à canção arranjos mais elaborados”, diz Aniela, 37 anos, nascida em Araras (SP).
“A gente mergulha nesse universo do que já foi feito com o que podemos somar hoje, com todo respeito com o que aconteceu”, afirma Rafael, 40 anos, criado em Atibaia.
Aniela é formada pelo Conservatório de Tatuí e pós-graduada em canção popular. Já Rafael é mestre em performance musical pela Unicamp. O duo, que tem o nome de Música de Interior, possui dois álbuns, ambos lançados ano passado: Interior e Música de Interior.
Nova geração
Neste ano, eles têm apresentado singles que desaguarão num novo registro fonográfico que sairá no início de 2023 pela gravadora Galeão. Das músicas ainda a serem lançadas, uma conta com a participação de Chico Teixeira, filho do Renato Teixeira, e outro do violeiro Arnaldo Freitas.
A dupla avalia que o público tem se interessado mais pela música caipira devido em parte ao êxodo urbano causado pela pandemia e maior interesse das pessoas à vida rural.
“Tem-se a visão de que a música caipira ficou em algum lugar do passado, mas, na verdade, não, ela está muito viva nas gerações atuais”, crê Rafael. “Como a gente nada contra a maré, que faz uma música que parece que foi deixada para trás e substituída por uma música mais romântica e americanizada, temos a liberdade de olhar para essa situação e selecionar o que interessa”.
A dupla acredita que também absorve um “público abandonado” pela mídia que não toca o que quer ouvir. Rafael e Aniela são de uma nova geração da música caipira, dando segmento ao gênero ligado umbilicalmente à história do País.
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