Fred Zero Quatro lançou um manifesto em 1992 chamado Caranguejos com Cérebro, que virou marco do movimento Manguebeat. O documento aborda o crescimento desordenado do Recife, uma das cidades na época com um dos índices mais baixos de desenvolvimento, e uma proposta para dar uma descarga de energia à localidade, chamada no manifesto de manguetown.
Segundo Fred, a necessidade de fazer o documento surgiu depois de ver uma cena musical crescente no Recife. “Chico [Science, principal artífice do movimento] foi quem associou o movimento ao ecossistema característico da cidade – o mangue”, diz ele.
“De cinco, seis anos pra cá, a cena é semelhante à de 1992”, conta Fred, que no documento destacou o caos social vivido pela cidade do Recife há 30 anos. “Houve aumento absurdo de gente morando na rua, as pessoas esperando você acabar de almoçar para pegar o osso”, diz. “Em termos de índices sociais, a situação é muito parecida com a que eu escrevi naquela época”.
O Manguebeat foi um dos movimentos musicais conceituais mais importantes da música brasileira – e um dos últimos. Fred afirma que a ruptura ocorrida na indústria da música por conta da internet gerou uma “hecatombe” e a “música se diluiu”.
Para ele, com todos os defeitos, “existia uma indústria fonográfica que favorecia” e colocava recursos volumosos no setor. Fred Zero Quatro diz que “hoje quem manda é o algoritmo. Houve uma fragmentação enorme na indústria da música”.
E acrescenta: “O pessoal não ouve álbum inteiro. É até difícil assimilar. Tudo muito rápido”. Ele conta que naquela época tinha que buscar informação sobre música e isso ajudava a criar diálogo.
No início deste ano, o Mundo Livre S/A lançou seu décimo álbum, o Walking Dead Folia. O disco de 11 faixas é cheio de críticas ao momento político e ao descuido com a gestão da pandemia.
Assista a entrevista na íntegra:
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login