A Redoma de Livros por Clarissa Wolff

“Tudo que é belo” é leitura obrigatória

45 histórias reais de famosos e anônimos reunidas em um livro emocionante

As quase 400 páginas trazem histórias incríveis por serem tão humanas
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Em Como funciona a ficção, o crítico literário James Wood conta que, em 2006, o prefeito de Neza, uma área violentíssima ao nordeste da Cidade do México, resolveu criar uma lista de leitura obrigatória para os policiais da cidade. Parece estranho, mas a lógica por trás faz todo o sentido: através da literatura, desenvolvemos a empatia, que, segundo o dicionário Merriam-Webster, foi a palavra de 2017. Tudo que é belo, uma reunião de 45 histórias reais, é, acima de tudo, sobre empatia. 

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A história por trás do livro é inegavelmente interessante: A The Moth, uma iniciativa sobre contar histórias criada há 20 anos em Nova York, veio a ter um milhão de ouvintes semanais no podcast e apareceu no último episódio da série Girls. Vemos Lena Dunham, no papel da protagonista “Hannah Horvath”, falando sobre uma experiência íntima, um desafio, um momento da sua vida. A narrativa – a forma como contar essa história – ganha o palco e, para quem ama literatura, é um prato cheio. 

Mas os méritos literários desse (espetacular) livro devem tomar o lugar de coadjuvante. Não são as belas frases (embora elas existam, e muito) o melhor que o livro tem a oferecer. Pessoas famosas contaram histórias, também – e isso também importa pouco na imagem final.

 

tudoqueebelolivro TUDO QUE É BELO, The Moth
Tradução de José Geraldo Couto
384 páginas, R$59,90
Editora Todavia

 

As quase 400 páginas (que me fizeram quase virar a noite duas vezes seguidas, sem conseguir parar de ler) trazem histórias incríveis por serem tão humanas. Elas nos levam aonde dificilmente iríamos – acompanhamos uma astrônoma precisando lidar com um problema que pode destruir uma missão de dez anos para ver Plutão pela primeira vez; um menino que foi soldado durante a infância jogando paintball com os amigos; e a menina que por acaso virou cabeleireira de David Bowie, responsável pela aparência de Ziggy Stardust. Mas o principal é o que Neil Gaiman fala no prefácio do livro: “a vulnerabilidade conta“. 

E é isso. É sobre a angústia da espera de dez anos mais do que sobre a improbabilidade de nós, leitores, vermos Plutão. É sobre a menina de 5 anos se despedindo do primo de 4 que morreu. É sobre o clichê, aquela coisa da dor e da beleza de se estar vivo, é sobre a perda, sobre família, sobre vitórias e sobre momentos que, de um jeito ou de outro, foram definitivos pra sermos quem somos.

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História a história, de lugar a lugar, viajamos por catarses e uma miríade de sentimentos, experimentamos culturas e, se a leitura vai fundo mesmo, nos tornamos pessoas melhores. Porque esse é desses livros: que nos torna melhores, sabe?

Então seja pela literatura, seja pela catarse, seja pela fruição: leia essa livro.

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