A Redoma de Livros por Clarissa Wolff

Retrospectiva literária: os melhores livros de 2018

Uma lista de grandes leituras que marcaram esse ano

Montagem: À esquerda, Lesley Nneka Arimah. À direita, Zadie Smith. Crédito: Emily Baxter e Dominique Nabokov/Reprodução
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Eu amo listas de melhores do ano. Principalmente pela subjetividade das escolhas, pelo que elas implicam sobre a pessoa que as escolheu. Dispenso o elitismo literário ou a validação da crítica: o que essas listas me trazem, mais que tudo, é a vontade de compartilhar sensações maravilhosas que só são possíveis através da arte. Trago aqui, então, grandes leituras que eu gostaria de compartilhar. 

Mas antes disso, menções honrosas: cinco leituras de outros anos marcaram meu 2018. A Ordem Vermelha, fantasia incrível de Felipe Castilho, se torna ainda mais importante no cenário sociopolítico atual. O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer, que me levou a uma sensibilidade literária maravilhosa. F, de Antônio Xerxenesky, que sempre surpreende com texto e tema que colocam a tal literatura brasileira de ponta cabeça. O pintassilgo, de Donna Tartt, que deixa qualquer prosador morrendo de inveja. E O dono do morro, de Misha Glenny, um exercício de empatia e um soco no estômago ao mesmo tempo, mergulhando em lógicas humanas muito além do que eu poderia experimentar na vida.

É preciso também falar sobre Sylvia Plath: Ariel, seu melhor livro de poemas, foi publicado pelo selo Verus do Grupo Editorial Record. Por se tratar de minha escritora favorita, seria injusto colocá-la em qualquer lista. Deixo aqui registrado que essa publicação não passou despercebida – pelo contrário, sua chegada ao Brasil foi muito comemorada.

Finalmente, sem mais delongas, minhas melhores leituras de 2018:

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#13 Afiadas, Michelle Dean (Todavia Livros, 416 páginas, tradução de Bernardo Ajzenberg): mais que uma leitura agradável ou que um mergulho na história e da mente de mulheres que mudaram a crítica (e o mundo), Afiadas é uma contribuição histórica. De autoras que já amo e admiro – Joan Didion, Janet Malcolm e Dorothy Parker – a outras em que ainda não tinha mergulhado com a profundidade merecida – Renata Adler, Rebecca West, Pauline Kael – o livro mapeia grandes vozes ensaístas dos Estados Unidos fazendo um retrato rápido e completo na mesma tacada.

#12 Infiltrado na Klan, Ron Stallworth (Seoman, 216 páginas, tradução de Jacqueline Damásio Valpassos): perturbadamente baseado em fatos reais, o livro traz na capa a chamada “desmascarando o ódio”. Contando a história de um detetive negro que se passa por supremacista branco para, como o título indica, infiltrar a Ku Klux Klan, ele nos coloca frente a frente com o pior do ser humano. De sentir raiva, tristeza e desesperança, é uma história que merece ser contada, lida e comentada. 

#11 O corpo dela e outras farras, Carmen Maria Machado (Planeta de Livros, 240 páginas, tradução de Gabriel Oliva Brum): roubando técnicas narrativas e temas das séries de TV, o livro mistura fantasia e ficção científica para discutir feminismo, socialização e tudo o que representa ser mulher no mundo hoje. Destaque para o conto que abre o livro, O ponto do marido.

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#10 A morte da verdade, Michiko Kakutani (Intrínseca, 272 páginas, tradução de André Czarnobai e Marcela Duarte): há anos se fala do fenômeno da eleição de Trump, das técnicas de manipulação da verdade emprestadas de Putin que permearam sua candidatura e invadiram terras tupiniquins com a campanha de Bolsonaro. Nesse livro, a fantástica Michiko Kakutani, crítica literária do The New York Times por quase quatro décadas e vencedora do Prêmio Pulitzer, investiga como o cenário mundial propiciou a multiplicação das fake news e a inauguração da pós-verdade.

#9 Flores para Algernon, Daniel Keyes (Aleph, 288 páginas, tradução de Luisa Geisler): um marco da ficção científica que resgata questões inauguradas em O mito da caverna, de Platão. Keyes conta a história sob a ótica humana carregada de sentimentos, que envelopam as questões filosóficas de formas capazes de partir o coração do leitor. Até Chandler, de Friends, ama.

#8 De espaços abandonados, Luisa Geisler (Companhia das Letras, 416 páginas): um experimento ousado, angustiante e bem humorado ao mesmo tempo, sobre imigração, Dublin, família, escrita, relacionamentos, solidão. Sem nenhuma dúvida uma das vozes mais fortes da literatura brasileira atualmente.

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#7 O que acontece quando um homem cai do céu, Lesley Nneka Arimah (Editora Kapulana, 167 páginas, tradução de Carolina Kuhn Facchin): coletânea de contos que são impressionantes do tema à capacidade literária. De histórias cruelmente reais (“Acidental”, “Descontrolada”) a metáforas muitíssimo bem feitas (“Quem vai te receber em casa”, publicado originalmente na New Yorker), o livro promete mais uma grande escritora contemporânea.

#6 A guerra, Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias (Todavia Livros, 344 páginas): um retrato competente sobre o PCC, elogiado por Drauzio Varella e Misha Glenny, consagrados autores sobre o mundo do crime brasileiro. 

#5 Praia de Manhattan, Jennifer Egan (Intrínseca, 448 páginas, tradução de Sergio Flaksman): o mais recente romance de umas das melhores escritoras contemporâneas é também seu primeiro histórico, voltando a uma New York dos anos 40 em plena Segunda Guerra Mundial, com mergulhadores profissionais, gangsters, relações familiares, mistérios e personagens, como era de se esperar, muito bem trabalhados.

#4 Com armas sonolentas, Carola Saavedra (Companhia das Letras, 269 páginas): minha primeira experiência com essa escritora que me tirou o fôlego. Um livraço sobre família, maternidade, gerações de mulheres ao redor do mundo, pertencimento, enfim – potente, poético, profundo, uma delícia a cada página.

#3 Nix, Nathan Hill (Intrínseca, 672 páginas, tradução de José Francisco Botelho): um livro tão bom que é quase inacreditável o fato de ser um romance de estreia. A relação entre o protagonista e sua mãe, o fim dos políticos anos 60, jogos de computador, relações de aparências, abandono, publicidade, ascensão política, tudo isso é trabalhado de forma magistral nessas centenas de páginas, com poderosas metáforas e imagens sobre as relações humanas.

#2 Tudo que é belo, The Moth (Todavia Livros, 384 páginas, tradução de José Geraldo Couto): uma esplêndida coleção de histórias lindas, tristes, fortes, engraçadas, perturbadoras, e sempre bem contadas. Todas reais. Todas extremamente emocionantes.

#1 Ritmo Louco, Zadie Smith (Companhia das Letras, 528 páginas, tradução de Daniel Galera): largue tudo o que estiver fazendo e pegue agora esse livro para ler. Com a prosa sublime de Zadie Smith, o livro desnuda histórias de amizades, racismo, caridade, superstars da música, viagens pelo mundo, relações entre mãe e filha. É absolutamente maravilhoso – um dos melhores para a vida toda.

Imagens: À esquerda, Lesley Nneka Arimah. À direita, Zadie Smith. Crédito: Emily Baxter e Dominique Nabokov/Reprodução

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