OS DIÁRIOS DE SYLVIA PLATH
Biblioteca Azul, 840 páginas, R$ 89,90
Pra quem gosta de: Sylvia Plath, Virginia Woolf, grandes escritoras, diários, memórias, biografias e textos sobre produção literária.
Um mergulho em uma mente complexa, inteligente e muito criativa, embora deprimida. Os diários de Sylvia Plath, assim como os documentários sobre Kurt Cobain, não devem ser buscados em uma vontade voyeurística de resolver o quebra-cabeça do “motivo”. Na vida real, suicídio e depressão não são explicados em fita cassetes com treze razões. Mas os diários de Sylvia Plath – de novo, assim como os documentários sobre Kurt Cobain – nos colocam em contato com uma sensibilidade ímpar para sentir e pensar o mundo, as dores e a beleza. Mergulhar nesses relatos é uma viagem muitas vezes de autoconhecimento e de empatia pelo outro, o que é ainda capaz de elevar o valor da obra, que transcende a sua própria qualidade literária inegável.
O PALÁCIO DA MEMÓRIA, Nate DiMeo
Todavia Livros, 256 páginas , R$ 44,90
Para quem gosta de: qualquer coisa. Sério, esse é à prova de erros.
O subtítulo desse livro diz: “Pessoas extraordinárias em tempos conturbados”. Impossível ser algo mais atual. Nate DiMeo é o criador do podcast (queridinho nos Estados Unidos) the memory palace, que encantou o tradutor Caetano W. Galindo (Ulysses, Graça Infinita, entre outras traduções desafiadoras pra caramba). Essa é a primeira vez que as narrativas, de gente comum e esquecida pela História, chegam em formato de livro. São curtas, belas e muito bem contadas, aquele tipo de livro coringa para amigos secretos, que é impossível não gostar. Uma delícia.
AS GAROTAS, Emma Cline
Editora Intrínseca, 336 páginas, R$ 49,90
Para quem gosta de: histórias de serial killers, literatura contemporânea, experiências de mulheres, livros de formação.
Emma Cline foi a milionária da Feira de Frankfurt do ano passado: levou pra casa 2 milhões de dólares pelos direitos desse livro, sua estreia. Um fato impressionante por si só, mas o mais impressionante é o que a história entrega. Embora tenha como pano de fundo os assassinatos de Charles Manson e a vida no culto (reinterpretados de forma ficcional), o livro é sobre exatamente o que o título indica: as garotas. Adolescentes um pouco perdidas e bastante angustiadas na Califórnia no fim dos anos 1960, vendo a geração paz e amor aos poucos entrar em ruínas entre drogas, guerras e novas revoluções, crescendo em um ambiente (muito) hostil a quem é mulher. Como é ser uma jovem mulher nesse mundo?
Leia também:
O sangue negro de Noémia de Sousa, poeta da revolução
AS PERGUNTAS, Antônio Xerxenesky
Companhia das Letras, 184 páginas, R$ 39,90
Para quem gosta de: Albert Camus e Dan Brown. Sim, é isso mesmo.
Com uma narrativa envolvente que se passa em um curto período de tempo e com muito mistério, a trama é digna de um livro de Dan Brown. E vai além: mergulha em questões existencialistas enquanto a personagem Alina se envolve com um culto estranho na cidade de São Paulo. O autor (homem) desenvolve uma personagem feminina muito bem – complexa e perfeitamente inserida no contexto do que significa ser mulher no mundo hoje – e ainda trata com irreverência de preconceitos literários. Pra começar a ler e não parar mais.
SEM DÓ, Luli Penna
Todavia Livros, 192 páginas , R$ 64,90
Para quem gosta de: coisas belas.
Com a sensação de um cinema mudo, esse quadrinho mergulha na São Paulo dos anos 20 para contar uma história de amor. É daqueles livros que não basta ler: admirar é parte do processo. E ainda fica lindo em mesa de centro.
TARTARUGAS ATÉ LÁ EMBAIXO, John Green
Editora Intrínseca, 256 páginas, R$ 34,90
Pra quem gosta de: boas histórias sobre adolescência.
Talvez nem todo adolescente goste de ler livros, mas é nossa parte ajudar a mudar isso. John Green é uma ótima escolha nessas situações. Com uma narrativa fluida e boas imagens, ele conta histórias sensíveis que trazem à tona situações, personagens e ideias muitas vezes esquecidos pela indústria do entretenimento. Nesse aqui, o protagonista vive um transtorno que atinge aproximadamente 2% da população: TOC. Depressão, câncer sem firulas e suicídio são trabalhados em seus outros livros. Ou seja: ele não tem medo de tocar em temas muitas vezes difíceis, mas faz com a delicadeza e lucidez que eles merecem.
COMO SE ESTIVÉSSEMOS EM UM PALIMPSESTO DE PUTAS, Elvira Vigna
Companhia das Letras, 216 páginas, R$ 47,90
Pra quem gosta de: literatura contemporânea das melhores.
O melhor livro nacional contemporâneo na minha opinião, essa obra-prima da Elvira Vigna mergulha no ego masculino para falar de prostituição, traição e relacionamentos – não apenas amorosos. Com uma voz furiosa e muito capaz, ela cria imagens literárias poderosas (o papel manchado em uma cocriação do tempo), escreve belas frases, levanta questionamentos difíceis e necessários, e entrega uma história envolvente, forte e muito, muito boa. Obrigatório para todo mundo que se interessa por literatura (e deveria ser para o resto também).
FOME, Roxane Gay
Globo Livros, 272 páginas, R$ 39,90
Pra quem gosta de: feminismo, Gloria Steinem, Rebecca Solint, JoutJout e TED Talks.
O subtítulo “uma autobiografia sobre o corpo” mostra a ambição do livro. Falar da experiência de um corpo é mergulhar numa conjunção de forças sociais que nenhuma equação de Einstein seria capaz de explicar. Aqui a autora, conhecida pelo seu livro anterior de bastante sucesso, “Má Feminista”, usa sua experiência individual com a obesidade para questionar essas estruturas de poder que envolvem todas as pessoas, principalmente as mulheres. Não é uma história de superação e nem de autoaceitação simplista. Como Camila von Holdefer levanta em sua resenha para a revista Quatro cinco um, “ao descrever a dificuldade de se movimentar num mundo que não costuma acolher pessoas obesas, Gay reitera o desejo de emagrecer”. O que me lembra outra citação, dessa vez de “O Mito da Beleza”, de Naomi Wolf: “Uma cultura focada na magreza feminina não revela uma obsessão com a beleza feminina. É uma obsessão sobre a obediência feminina. Fazer dietas é o sedativo político mais potente na história das mulheres; uma população passivamente insana pode ser controlada.” Ou seja: esse sim poderia ter o nome “Coisas que toda garota deve saber”.
MULHERES, CULTURA E POLÍTICA, Angela Davis
Editora Boitempo, 200 páginas, R$ 48
Pra quem gosta de: pensar que um dia poderemos viver em um mundo justo e igualitário (o que, vamos ser sinceros, todo mundo deveria gostar).
Assim como o livro “Mulheres, raça e classe”, publicado no ano passado pela mesma editora, esse livro discute as relações interseccionais de poder entre o patriarcado, o racismo e as classes sociais, convidando as militantes de hoje a aprofundar a discussão teórica e política e a analisar o passado para aprender com as militantes de décadas anteriores. Trazendo o contexto dos Estados Unidos durante o governo de Ronald Reagan, a autora enumera dados e estatísticas sobre como determinadas ações sociais impactaram a vida de mulheres e da população negra, enfraquecendo esses grupos sociais. Esse deveria ser um presente adequado – ou, vamos ser sinceros, uma leitura obrigatória – para todo cidadão do mundo. Mas dá pra pelo menos garantir o sucesso no Natal entregando esse livro nas mãos de todas as pessoas de esquerdas com um compromisso em lutar por um mundo melhor.
QUATRO CINCO UM
Assinatura anual: R$ 136,00
Pra quem (realmente) gosta de: ler.
Acredito que quase toda a família tem aquele integrante que passa metade dos almoços lendo, quietinha, entre as conversas cruzadas. Quem é realmente interessado por literatura não se satisfaz em apenas ler – as discussões suscitadas por qualquer leitura se tornam mais ricas quando existe uma troca de informações, o que explica o sucesso de blogs e canais literários. A revista Quatro cinco um, lançada esse ano, tem um compromisso em trazer resenhas longas de pessoas que sabem do que estão falando, o que tem como efeito dois processos muito preciosos para quem ama livros: por um lado, amplia a experiência da leitura trazendo novas perspectivas; e, por outro, aumenta a visão do leitor ao trazer sugestões de novas possíveis leituras. Se você tem uma pessoa dessas na família e nunca sabe qual livro dar de presente (até porque geralmente essas pessoas têm muitos!), esse aqui é o presente ideal.