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Moradores da Zona Norte desaprovam centros para pessoas em situação de rua

Levantamento mostra que política pública de acolhimento não é bem aceita na região

Ponto de ônibus em frente ao CTA do Parque Novo Mundo tem poucos passageiros
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Os paulistanos da zona norte são os mais críticos da cidade em relação à abertura de centros de acolhida para as pessoas em situação de rua. É o que revela a pesquisa Viver em São Paulo: Assistência Social”, promovida pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência.

O estudo pretende indicar como deve ser a atuação da prefeitura na melhoria das condições de vida dessa população.

Em Santana, a região da avenida Zaki Narchi tem cinco centros de acolhida, vizinhos a um conjunto habitacional com 700 famílias, a um hotel, shopping center e espaço para feiras e exposições.

Três centros ficam em um mesmo complexo e foram inaugurados em 2014, na gestão Haddad, enquanto o último foi aberto em dezembro de 2017, na gestão Doria.

A coordenadora Lígia Oliveira, 44, moradora do local, tem o perfil padrão apontado pela pesquisa na zona norte, e se manifesta contrária à criação de novos centros. Ela argumenta que, desde o início, os moradores tiveram “experiências horríveis, com casos de xingamentos, assédio e furtos”.

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“A gente se acostumou com a convivência, mas eles incomodam muito. Os piores horários são entre 17h e 18h, na entrada, e às cinco da manhã, na saída”, afirma. Na região norte, apenas 36% apoiam a medida, enquanto no centro da cidade a taxa atinge 45%.

No Parque Novo Mundo, o comerciante Givaldo Silva, 57, mantém um restaurante bem próximo ao novo Centro Temporário de Acolhimento (CTA). Ele também não considera que a abertura de mais locais para abrigo seja a melhor alternativa.

“Por que não investir esse dinheiro em creches, postos de saúde, escolas?”, pergunta. Ele afirma que, desde a inauguração do espaço, há sete meses, o clima de insegurança aumentou na região. “A vida piorou muito pra nós. Os funcionários que residem no bairro sempre comentam sobre roubos de celular. Também aumentou o número de pedintes na rua”, reconhece.

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Em frente ao CTA, um ponto de ônibus tem sido evitado pelos moradores e trabalhadores da região. “Principalmente as mulheres não usam esse ponto. Pra sair do trabalho, à noite, é sempre em grupo de três ou quatro”, conta.

Da mesma forma que 38% dos moradores da zona norte [o índice mais alto da cidade], o comerciante e a coordenadora se dizem favoráveis a oferecer cursos de capacitação profissional a essa população.

“Educação é o caminho. A maioria aqui é de jovens, rejeitados pela sociedade e que deveriam estar aprendendo uma profissão”, opina Silva.

Outra proposta levantada pela pesquisa diz respeito ao financiamento dos custos de viagem, para pessoas em situação de rua que queiram voltar às cidades de origem. 28% dos entrevistados na zona norte aprovaram a ideia, o maior percentual entre todas as regiões [a média da cidade foi de 23%].

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A coordenadora Lígia Oliveira concorda, mas acrescenta que a medida “deveria ter uma regra: a pessoa assinaria um documento se comprometendo a não retornar a São Paulo”.

Para a pergunta se a prefeitura “não deve permitir pessoas morando nas ruas, obrigando que todos encontrem um local para morar”, a pesquisa indicou a zona norte como a campeã de aprovação. Foram 18% dos moradores favoráveis a essa opção, acima da média de 15% das demais regiões.

Os dois entrevistados pela reportagem do 32xSP não concordaram com essa proposta. Para a moradora da avenida Zaki Narchi, a medida “não tem lógica. Se não deixar na rua, tem que ir pro centro de acolhida”. Já o comerciante Silva afirma que “quem está na rua não tem outra opção pra morar”.

A zona norte é a regional que apresenta o quarto maior índice de moradores de rua em relação ao total de habitantes. A prefeitura regional de Santana/Tucuruvi aparece, de acordo com os últimos números do Mapa da Desigualdade, atrás apenas de regiões como Sé (centro), Mooca (zona leste) e Lapa (zona oeste) no quesito quantidade de pessoas em situação de rua.

A prefeitura regional de Santana/Tucuruvi afirma que realiza rotineiras ações de zeladoria na região próxima às linhas do Metrô, e reitera que “os serviços são antecedidos por abordagens aos moradores de rua, tentando encaminhá-los aos equipamentos da região”.

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