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São Paulo tem um subprefeito trocado a cada 40 dias

Desde janeiro de 2017, 15 subprefeitos foram exonerados ou demitidos pelo ex-prefeito João Doria e pelo atual, Bruno Covas, ambos do PSDB

Subpreefeitura de Itaquera, na zona leste de São Paulo (Raquel Porto/32xSP)
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De acordo com levantamento enviado ao 32xSP pela Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB), em um ano e oito meses do governo Doria-Covas, 15 subprefeitos foram exonerados ou demitidos. O que leva a média de uma saída a cada 40 dias.

Em maio deste ano, já durante a atual gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), a dança das cadeiras dos subprefeitos incluiu Roberto Arantes, que administrava Santo Amaro; Benedito Pereira, de Sapopemba; e Paulo Victor Sapienza, do Butantã.

No fim de junho, a então subprefeita da Penha, Fernanda Maria de Lima Galdino foi demitida. No mês seguinte, mais gestores locais perderam seus cargos: Jacinto Reyes (Itaquera) e Heitor Sertão (Campo Limpo).

O governo municipal estabelece a função de subprefeito como cargo de confiança. Como não há necessidade de concurso público, a escolha fica sobre responsabilidade da prefeitura do município.

Segundo a Secretaria das Subprefeituras, cabe à gestão decidir quais os critérios para a escolha, e quando há dispensa não há obrigação em informar o motivo.

O modo fechado como é feita a nomeação dos administradores locais colabora para a sensação de falta de clareza. Prova disso, 85% dos paulistanos acham a administração pouco ou nada transparente, segundo a pesquisa ‘Transparência e Participação na Cidade’, divulgada neste mês pela Rede Nossa São Paulo em parceria com Ibope.

Leia também: Reclamações sobre subprefeitura do Butantã aumentaram 34% em 2017

Relação com o bairro

Para a cabeleireira Roseli Gomes, 48, moradora do Parque São Rafael, a Prefeitura deveria eleger subprefeitos que vivam nas regiões administradas. “Um morador do bairro lutaria pelo lugar onde mora e saberia melhor dos problemas da vizinhança, o que realmente precisamos”.

A proximidade aos moradores facilitaria outro aspecto necessário à política: a comunicação. “Alguém que todos conhecem na vila é mais fácil de encontrar. A gente teria o direito de cobrar as coisas diretamente dele”, diz o aposentado Halid Drages, 64, morador há 20 anos do Jardim Colonial. “Desde quando vim pra cá, nunca soube quem é o subprefeito. Entra um e tira esse daqui. É sempre a mesma coisa”, comenta o aposentado sobre a troca de nomes pelas gestões municipais.

Mudanças que acontecem desde 2002, quando as sedes administrativas foram instituídas.

Eleições para subprefeito poderiam ser a chance de aproximar os moradores das decisões administrativas, porém, é o prefeito da cidade de São Paulo quem decide cada um dos 32 gestores locais da capital paulista.

No entanto, oito de cada dez paulistanos são favoráveis à votação popular para eleger esses profissionais, ainda conforme a pesquisa ‘Transparência e Participação na Cidade’. “Uma política mais próxima às pessoas pode interessar”, reforça o estudante Matheus Xavier, 17, morador de São Mateus, na zona leste. “Nós estamos saturados com a política. No dia a dia ninguém discute. Só reclamamos da corrupção e acabamos esquecendo que é isso que molda a nossa sociedade”, completa ele, que este ano votará pela primeira vez.

Leia também: Em menos de 6 meses da gestão Doria, Parelheiros troca de prefeito regional

Há um projeto em tramitação na Câmara Municipal de São Paulo para que a população eleja os subprefeitos. Os três nomes mais votados em cada regional, conforme a proposta parlamentar 61, de 2015, seguiriam para o prefeito local. O chefe do executivo tomaria a decisão final.

Ainda sem meios diretos para escolher quem administra mais de perto o lugar onde mora, a cabeleireira Roseli não desanima. “Muda tanto [os subprefeitos] que eu nem sei, fica uma bagunça que você acaba se perdendo no meio do caminho. Mesmo assim, o voto é a arma que temos.”

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