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Parquinhos são os locais públicos para crianças com pior avaliação

Em SP, áreas de recreação infantil têm bons brinquedos, mas pecam na segurança e zeladoria. Bibliotecas e centros culturais possuem melhor avaliação

41% dos paulistanos avaliam como ruins ou péssimos os parquinhos públicos na cidade
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Gabriel Souza tem 6 anos e aos finais de semana vai com seu pai à praça do Galeão, perto de sua casa, na Vila Curuçá, zona leste de São Paulo, para usar os brinquedos de lá. “Outro dia teve pula-pula, festival de pipas e também deram doces para as crianças… foi bem legal”, conta, referindo-se a um evento de dia das crianças.

Para ele, o espaço é ótimo, ainda mais porque, ao lado, há um campo de futebol e uma pista de skate, onde ele aproveita para brincar também. Gabriel tem um único pedido: “poderia ter pula-pula sempre”.

A percepção da criança se diferencia da opinião dos adultos na capital paulista. De acordo com a pesquisa “Viver em São Paulo: a Criança e a Cidade”, feita pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, parquinhos são os espaços públicos utilizados por crianças e adolescentes na cidade mais mal avaliados pelos paulistanos.

Dos entrevistados, 41% (com idade superior a 16 anos) afirmam que a qualidade dos parquinhos é ruim ou péssima, ante 16% que consideram ótima ou boa e 38% que apontam como regular. Centros culturais e bibliotecas, por outro lado, têm melhor percepção, com 41% e 39% de avaliação ótima/boa, respectivamente.

Outros equipamentos citados no levantamento são os espaços de lazer e convivência dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), com 34% de avaliação positiva; quadras poliesportivas, com 41% de avaliação regular; e praças e parques, com 33% de avaliação negativa.

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A funcionária pública Renata Fernandes, 35, moradora da Penha, na zona leste, costuma levar seu filho de 11 anos para praças, parques e demais espaços espalhados pela cidade. No caso dos parquinhos e áreas com playground, ela analisa que a qualidade varia de uma região para outra e que o uso dos espaços por crianças e adolescentes depende do horário, por questões de segurança.

“Alguns parquinhos são bem arrumados, outros falham muito na manutenção. Sem contar que, à noite, é comum achar embalagens de drogas e garrafas de bebida alcoólica pelo chão”, comenta.

Renata destaca, contudo, que parques municipais, como o Parque do Carmo (zona leste) e o Parque Trianon-Masp (centro), são mais limpos e permitem que as crianças brinquem com mais tranquilidade. “Também tem outros espaços maravilhosos, como Museu Catavento e a Gibiteca do Centro Cultural São Paulo. Nós adoramos o Catavento. Além de ser um espaço de cultura, o preço do ingresso é barato e, do lado de fora, ainda tem um espaço incrível de exposição interativa”, afirma Renata.

De responsabilidade da Secretaria de Estado da Cultura, o Catavento Cultural e Educacional reúne cerca de 250 atrações e atividades relacionadas às áreas de biologia, química e astronomia. A visitação é gratuita às terças-feiras e, de quarta a domingo, a entrada custa 10 reais. Crianças com até 3 anos e 11 meses não pagam pelo ingresso e crianças de 4 a 12 anos, meia-entrada.

A Gibiteca Henfil, localizada no Centro Cultural São Paulo, na região centro-sul, é outra boa opção para o público juvenil, com entrada gratuita. O local tem mais de 10 mil títulos entre gibis, periódicos e livros sobre histórias em quadrinhos. Em sua programação, oferece oficinas, palestras, exposições, exibição de filmes e jogos.

Eduardo Silva/32xSP Playground do parque Chácara das Flores tem quatro opções de brinquedos (Eduardo Silva/32xSP)

Na zona leste de São Paulo, o Parque Chácara das Flores, no Jardim Bartira, possui uma quadra poliesportiva e duas áreas com playground – uma com quatro opções de brinquedos para crianças de até 10 anos e a outra com três.

Uma moradora que não quis se identificar disse que famílias costumam fazer piqueniques no local e as crianças até formam fila para usar os brinquedos da primeira área. A outra, segundo ela, é mais vazia, pois frequentadores se queixam de descarte de lixo no local e presença de usuários de droga.

A 2 km dali, na Praça José Fortuna, no bairro Jardim Robru, há uma quadra, mesas com jogos de tabuleiro e quatro opções de brinquedos, como balanços e escorregadores. A quantidade de lixo jogado no local, entretanto, impede que o ambiente seja mais bem aproveitado.

Moradora da região, a agente de saúde Kátia Maria da Silva, 39, diz que o espaço poderia ser mais bem cuidado e conservado. “A equipe de limpeza [da Prefeitura] limpa a praça pela manhã, mas quando é de noite já está tudo sujo de novo”, conta.

A falta de cuidados na praça e as baixas opções de lazer nas proximidades fazem com que sua filha de 15 anos tenha que ir para outros bairros para se divertir: “Minha filha e meu sobrinho vão muito no Parque CERET [no Jardim Anália Franco] e no Parque do Carmo [em Itaquera] porque esses, pelo menos, têm uma manutenção melhor”.

De acordo com uma determinação que altera a Lei da Acessibilidade, espaços públicos devem ter brinquedos e equipamentos de lazer adaptados para pessoas com deficiência, incluindo visual e mobilidade reduzida. A adaptação é feita na estrutura de, no mínimo, 5% dos brinquedos.

A medida foi publicada no Diário Oficial da União em maio de 2017, com prazo de 90 dias para que as determinações fossem cumpridas. Nos dois locais percorridos pela reportagem, não haviam brinquedos adaptados.

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