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Maioria dos paulistanos não frequenta teatros

Pesquisa mostra que 59% dos moradores da cidade não frequentam espetáculos teatrais. Zona leste tem o pior índice, 65%

Alle Paixão em cena com a peça “O menino e a cerejeira”. Atualmente o espetáculo está em cartaz nos teatros do Sesi
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A maioria dos moradores da cidade de São Paulo, 59%, não frequentam espetáculos teatrais. É o que revela a pesquisa “Viver em São Paulo: Cultura”, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope. Entre as regiões, a Zona Leste tem o pior índice. Lá, 65% dos moradores não costumam ir ao teatro.

Ao todo a cidade possui mais de 120 teatros. Na zona leste, o Teatro Fernando Torres, no Tatuapé, e o Teatro Martins Penna, na Penha, são exemplos de espaços culturais onde peças teatrais são apresentadas.

“Infelizmente esse dado não me surpreende. Realmente muitas pessoas na minha vizinhança nunca foram ao teatro ou a qualquer outro polo cultural”, avalia a atriz Alle Paixão, 38, moradora do Itaim Paulista. “Além de atriz, também sou professora e, por diversas vezes, tentei levar os alunos ao teatro, mas sem sucesso”, diz Alle, destacando que esse tipo de atividade não é priorizado pela gestão das escolas e isso dificulta a formação de público.

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A estudante de publicidade e propaganda Bruna Vidal, 23, moradora de Itaquera, é uma das paulistanas que nunca foram ao teatro. “Quando eu era mais nova, nunca fui por questões de hábito e dinheiro. Agora é devido à falta de tempo”, comenta. “O que me ajudaria bastante seria a localização. Grande parte desses eventos acontece longe de casa. Como eu uso transporte público, fica mais difícil ainda.”

No bairro vizinho, Jardim São Pedro (que fica entre os distritos de Itaquera e Guaianases), a jornalista Mariana Emygdio, 24, afirma que também nunca foi ao teatro pelos mesmos motivos. “Quando eu comecei a me interessar em assistir as peças, fiquei incomodada porque alguns horários não eram ‘acessíveis’ para voltar para casa”, conta.

De acordo com ela, sua família também não tem esse costume. “Meus pais são um pouco avessos à peças teatrais. Temos, em geral, uma preferência por apresentações de orquestras”, conta Mariana, que vai mais frequentemente a museus e a concertos de música clássica. “Mas como estou voltando a estudar música, quero me programar para ir a musicais neste ano”, complementa.

Próximo de sua residência, fica o CEU Jambeiro que possui um teatro com 450 lugares. Porém, no mês de abril, de acordo com a Programação Geral Mensal, disponível no portal da Prefeitura de São Paulo, o teatro não possui nenhuma agenda ou atração.

A-Menina-da-Cabeça-de-Bola-1.jpg Teatro da Neura em cena com a peça “A Menina da Cabeça de Bola” no CEU Água Azul, em Cidade Tiradentes (Divulgação)

A cerca de 5 km de distância, o CEU Inácio Monteiro, na Cidade Tiradentes, por outro lado, teve duas peças gratuitas apresentadas no início do mês. O teatro também tem capacidade para 450 pessoas.

Michel Galiotto, 40, foi coordenador de cultura do CEU Inácio Monteiro durante quatro anos e atualmente é produtor do grupo Teatro da Neura, de Suzano, que está em cartaz em alguns espaços culturais da zona leste de São Paulo com o espetáculo infantil “A Menina da Cabeça de Bola”.

Morador de Itaquera, ele afirma que, para um coletivo de teatro independente, a divulgação do trabalho pelas redes sociais é fundamental. “Estamos na era da comunicação, mas isso tem vantagens e desvantagens.

Os cidadãos são bombardeados por muito mais convites do que há anos atrás, o que faz a divulgação alcançar mais pessoas, mas não necessariamente prender a atenção delas”, avalia.

Galiotto também destaca que ter um orçamento disponível para a divulgação de um espetáculo não é a realidade de muitos artistas e companhias teatrais.

Por essa razão, uma boa estratégia é ter uma programação fixa para fidelizar o público, tais como apresentações todos os finais de semana, toda primeira terça-feira do mês ou sempre aos últimos sábados de cada mês.

Leia também: Quanto vale o ingresso? Acesso à cultura é questão de preço em SP

“Isso já provou dar muito resultado em espaços culturais, já que as pessoas tem a certeza da programação e se planejam para estar ali, independentemente se a comunicação chegou ou não. Cria-se um hábito”, finaliza.

O Teatro da Neura se apresenta gratuitamente no dia 29 de abril na Casa de Cultura do Itaim Paulista e no dia 23 de junho na Casa de Cultura Raul Seixas, em Itaquera.

Além disso, há teatros nos CEUs, Casas de Cultura e Fábricas de Cultura. Confira os endereços no site da Prefeitura de São Paulo.

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