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Riad Younes: Os antivacina adoram uma teoria da conspiração

‘Está na hora de um esforço coordenado para definir a estratégia caso uma vacina seja eficiente e aprovada’, escreve o autor

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Ainda nem saíram os resultados preliminares dos estudos conduzidos ao redor do mundo para a aprovação de uma ou mais vacinas contra Covid-19 e começaram as mensagens contra a vacinação nas redes sociais.

Incrível como o Homo sapiens age perante qualquer desafio. Adora uma teoria de conspiração. Independentemente do que a pesquisa e a ciência observem, concluam e recomendem, imediatamente, e até preventivamente, leigos e alguns profissionais da saúde chegam a conclusões contrárias, duvidando do que nem foi publicado ainda.

A ciência nem divulgou qualquer resultado final da eficiência ou da segurança dessas vacinas e borbulham as teorias de que elas causam vários problemas de saúde em quem as receber.

“A esperança é muito grande de conseguirmos uma ou várias vacinas eficientes no início de 2021”, declarou a professora Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo, que coordena no Brasil testes para avaliar a segurança e a eficácia de uma dessas vacinas, a chamada vacina de Oxford.

Diante da pandemia e de suas consequências trágicas em mortalidade e em doenças graves, internações prolongadas, sofrimento, confinamento da população e queda da atividade econômica, a população vê nas vacinas uma esperança para controlar este contágio e um retorno a algum tipo de “normalidade”.

Este esforço científico mundial, uma verdadeira corrida, pode ter seus resultados frustrados por um movimento cada vez mais robusto contra a vacinação. As teorias da conspiração surgem diariamente e são disseminadas em velocidade ainda maior que a própria infecção pelo Covid-19.

Poucos dias atrás, manifestações em vários países da Europa, entre eles Inglaterra e Alemanha, juntaram centenas a gritar lemas contra a vacina, contra as recomendações para a prevenção da infecção, e até duvidando se realmente o coronavírus existe.

Levantamentos recentes indicam que, no momento, 28% da população inglesa se recusaria a receber a vacina. Destes, 6% estão determinados a não serem vacinados, independentemente de resultados de estudos científicos ou de orientação de autoridades de saúde. Resultados semelhantes foram observados na população alemã.

Nos Estados Unidos, estima-se que mais de 40% não estejam a favor de qualquer esquema de vacinação contra a Covid-19. Recentemente, o doutor Anthony Fauci, cientista e diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas nos Estados Unidos, declarou estar preocupado com “o sentimento generalizado anticiência, antiautoridade e antivacina no País”.

Afirmou também que, “se uma porcentagem elevada da população norte-americana se recusar de receber a vacina, será improvável conseguirmos imunização suficiente para interromper a pandemia”.

O doutor Fauci enfatiza a necessidade de abordagem coordenada, mensagem clara, informações precisas para educar e orientar adequadamente a população, antecipando as prováveis campanhas de vacinação em massa.

Neste sentido, mensagens dúbias, como aquela divulgada por Bolsonaro (“ninguém é obrigado a tomar vacina”) não ajuda nem um pouco.

Está na hora de um esforço coordenado para definir a estratégia caso uma vacina seja eficiente e aprovada. E não precisamos chegar a 200 mil mortes antes de parar para pensar e contornar as teorias da conspiração que tentam dominar a mídia.

O Brasil saiu atrasado em várias ações contra a pandemia desde março, a um custo elevado de sofrimento e de perda de vidas. Não pode perder mais esta oportunidade.

*Riad Younes é médico, diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina da USP.

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