Artigo

Juntos no segundo turno

Boulos representa a renovação que muitos de nós queríamos ver

Foto: Bruno Fortuna/Imprensa PDT
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Sobrevivemos ao primeiro turno. E digo sobrevivemos, literalmente, pois eu tive taquicardia em vários momentos e meu instinto homicida disparava cada vez que via na tela o maldito 0,39% de urnas apuradas em São Paulo, que quase me mata dos nervos durante horas. Com o ritmo cardíaco a milhão, aparece o ministro Luís Roberto Barroso em coletiva de imprensa, que teve mais tempo de cerimonial do que de explanação. Com aquele discurso apaixonado, postura carismática e estimulante, Barroso anunciou que o supercomputador pifou no pior momento. Algum estagiário reiniciou o Windows justo antes de fechar as urnas? 

Resolvido o mistério do supercomputador, vamos a alguns dados: Bolsonaro vai passar às páginas da história como um dos piores cabos eleitorais da democracia mundial. Dos 59 candidatos apoiados por ele, apenas 12 conseguiram se eleger. Nos últimos dias, os candidatos escondiam-se dele, como a escapar apavorados de uma maldição. Ele perde força para a velha, a tradicional, a antiga política, a de sempre, a ancestral, a que parece que só muda de nomes (não de sobrenomes), mas nunca de modus operandi

O DEM é um dos protagonistas indiscutíveis da noite, com três capitais amealhadas em primeiro turno (Curitiba, Salvador e Florianópolis), grande chance de ganhar no Rio de Janeiro (contra Crivella, todos somos Dudu desde criancinhas) e avanço de 172 prefeituras sobre o número total de 2016. Rodrigo Maia reina. Os brasileiros voltam à velha direita conhecida e a estabilidade versus a disrupção da extrema-direita.  

Outros ganhadores são o PSD, 52 municípios a mais, e o PP, 89, além daqueles conquistados em 2016. Uma das questões que captamos nas pesquisas que desenvolvemos, eu e Camila Rocha, é que, nesta eleição, para muitos, a estabilidade, a segurança política, foi um fator decisivo. Se 2018 foi a eleição do novo, da mudança extrema, 2020 é, para a grande maioria do povo que se coloca ideologicamente à direita ou na centro-direita, a aposta por recuperar a estabilidade que só a política tradicional garante. 

O Centrão ganha força para 2022 e Rodrigo Maia se cacifa como um dos principais articuladores da eleição nacional. Lembram-se do balão de ensaio Luciano Huck-Sérgio Moro? Talvez não com essa configuração, mas uma direita cheirosa (civilizada como dizem os comentaristas do GloboNews) tem um grande potencial em 2022.

Se o bolsonarismo foi deslocado pelo Centrão, em certa medida o petismo também foi deslocado. Eleição não é só uma questão numérica, mas também de símbolos e narrativas, e essas o petismo não as soube trabalhar bem. O PT perde prefeituras quando comparado com 2016, um ano catastrófico para o partido. Com maiores números de prefeituras ficam o PDT e o PSB. Mas o PT acumula uma derrota história e dramática, São Paulo. Jilmar Tatto fica atrás de Arthur “Mamãe Falei” do Val em número de votos. Parece-me que a direção do partido deve à base explicações por esse acontecimento humilhante. No restante das capitais, só Recife e Vitória terão segundos turnos com candidatos petistas, destacando o papel de Marília Arraes na política nordestina. Além da centro-esquerda, o petismo é desafiado por progressistas mais jovens e menos sistêmicos. Manuela d’Avila (PCdoB), em Porto Alegre, passa ao segundo turno, também em Belém o psolista Edmilson Rodrigues disputa o segundo turno e, fundamentalmente, o fenômeno Guilherme Boulos em São Paulo. 

Boulos representa a renovação que muitos de nós queríamos ver. Com uma campanha que empolgou pelo estilo natural, combativo e apaixonado, mostra que a crise do PT talvez não signifique a crise da esquerda de forma geral, como se pensava. Agora, sem dúvida, é a vez de Boulos. Derrotar o tucanato em São Paulo, derrotar João Doria, seria uma enorme luz de esperança neste ano de tantas tristezas políticas. Fiquemos muito atentos aos movimentos do segundo turno em São Paulo. Lá está em jogo não só a prefeitura, mas os avanços de Doria para 2022. Todos aqueles que se consideram progressistas devem estar ao lado de Boulos neste momento. Todos são bem-vindos contra Covas-Doria.

Eu vou com tudo com Guilherme Boulos, coloco nele minha esperança, minhas expectativas, meu sonho de mudar a cidade. Sei que ganhar da máquina é difícil. Mais de 1 milhão de votos da chapa Boulos-Erundina no primeiro turno demonstra, porém, não ser impossível. Podemos chegar lá e devemos chegar lá juntos, o campo progressista sem fissuras, todos numa construção coletiva, conjunta, porque um futuro de esperança só se constrói entre todos e não podemos nos dar o luxo da divisão, não neste momento.

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