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Conservadorismo nosso de cada eleição

Com o fracasso nas eleições municipais de 2020, o bolsonarismo está saindo de moda, mas o conservadorismo, o machismo e o racismo não.

Foto: Alan Santos/PR
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Na eleições municipais de 2020, o bolsonarismo sofreu uma derrota. Candidatos indicados pelo Bolsonaro para as prefeituras e câmaras de vereadores tiveram resultados desastrosos nas urnas. O fracasso foi tamanho que o próprio Bolsonaro apagou o seu Tweet com as indicações dos nomes, o que só foi salvo graças a printagens feitas por seguidores antenados. Seu filho, Carlos Bolsonaro, apesar de todos os holofotes e de ter sido reeleito vereador na cidade do Rio de Janeiro, despencou em número de votos, comparativamente às eleições de 2016.

Se é certo que alguns reveses importantes marcaram as urnas nas eleições municipais de 2020, sinalizando que as mudanças virão dos municípios, onde a vida acontece, por outro lado, não se pode olvidar que as marcas mais profundas, como do conservadorismo, do machismo e do racismo, continuam presentes.

O capital político de Bolsonaro não serviu sequer para eleger a maior parte dos candidatos, simultaneamente cínicos e azarados, e isso deve ser comemorado. Seu índice de rejeição aumentou especialmente nas grandes capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, como indicado por pesquisa de opinião pública desse mês de novembro, do instituto Datafolha. Em São Paulo, 50% do eleitorado rejeita Bolsonaro, enquanto, no Rio de Janeiro, 42%. Em Recife, a rejeição é de 45% enquanto, em Belo Horizonte, a rejeição é de 45%.

Por outro lado, partidos de direita ou centro direita avançam em números nas prefeituras dos 5.570 municípios brasileiros, fazendo parte de espectros que, embora não representem diretamente o bolsonarismo, compartilham das mesmas pautas conservadoras. São exemplos o PSL, que triplicou o número de prefeituras, passando de 30 (trinta) para 90 (noventa); o Republicanos, que dobrou, de 104 (cento e quatro) para 208 (duzentos e oito); o Avante, que passou de 15 (quinze) para 80 (oitenta) prefeituras; e o DEM, que passou de 265 (duzentos e sessenta e cinco) para 465 (quatrocentos e sessenta e cinco) representantes nos executivos municipais.

Do lado da esquerda, o PT, PSB, PDT e PCdoB sofreram recuos, com exceção do PSOL, que dobrou o número de prefeituras, passado de 2 (duas) para 4 (quatro). Boulos com Erundina disputam o segundo turno na maior capital do país, pelo PSOL, enquanto Manuela D’Ávila com Miguel Rossetto disputam o segundo turno em Porto Alegre, pelo PCdoB. A COVID-19 beneficiou os candidatos à reeleição, independentemente de espectros políticos. Outrossim, houve a maior abstenção dos últimos 20 (vinte) anos, com 23,10%.

No caso das mulheres, o aumento de eleitas foi tímido, de 11,7% para 12%, apesar do aumento do número de candidatas, que representaram 33,6% no pleito de 2020, o maior percentual das últimas três eleições. Sendo assim, apenas 1 (uma) de cada 10 (dez) prefeituras será liderada por mulheres, repetindo a baixa representatividade feminina no poder executivo. Hoje, dos 26 (vinte e seis) estados brasileiros, há apenas 1 (uma) governadora, Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte. A sub-representação não deu indícios de ser resolvida nas eleições 2020.

Não por acaso, o feminicídio cresce no Brasil: uma mulher é morta a cada nove horas e, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o 5º país com maior número de casos de feminicídio, perdendo apenas para Colômbia, Guatemala, El Salvador e Federação Russa. Não estranha que casos jurídicos como de Mariana Ferrer, com o machismo escancarado e torções da lei, inventando a figura do “estupro culposo”, sejam comuns nos corredores da justiça brasileira. Isso sem considerar os casos das mulheres trans e travestis, considerando que o Brasil é recordista mundial em transfeminicídio.

Quanto ao racismo estrutural, houve um aumento que, embora maior que no caso das mulheres, ainda é tímido: 32% dos prefeitos eleitos são negros sendo, em 2016, 29,2%. Cresce número de quilombolas e indígenas eleitos. A cidade de Pesqueira, do Pernambuco, elegeu, sob judice, o seu primeiro prefeito da etnia Xukuru, o Cacique Maruqinhos Xukuru (Republicamos).

Diante desse cenário, em que o bolsonarismo perde, mas o conservadorismo nem tanto, devem ser aguçados os olhares. Com a perda de Trump nos EUA e o isolamento de Bolsonaro “entre a saliva e a pólvora”, no cenário político internacional e interno, restam aos conservadores, apenas, trocar de roupas. A nós, cabe identificá-los em cada um de seus figurinos.

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