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Como identificar os charlatães da medicina

‘Eles proliferaram durante a pandemia. Cuidado. Eles são nocivos, antiéticos e mercenários’, escreve Riad Younes

Vacina da Pfizer é aplicada em hospital na Alemanha. Foto: Ina Fassbender/AFP
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O charlatanismo na medicina não é tão incomum quanto imaginamos. Infelizmente, todos os dias, em todos os países do mundo, considerados civilizados, prósperos ou não, alguém pratica atos de puro charlatanismo ao cuidar da saúde alheia. Para identificar esses charlatães, precisamos primeiro entender o que seria incluído na definição de charlatanismo.

Para simplificar, esse termo se refere a ações ou atitudes que oferecem abordagens falsas como fatos médicos confirmados. Vamos deixar bem claro desde já que nem todos os charlatães praticam suas maldades com a intenção de ganho financeiro: alguns o fazem meramente para satisfazer crenças pessoais ou por ignorância total dos mais básicos preceitos da medicina moderna.

Como identificar charlatães?

1. Geralmente, se apresentam como experts e oferecem tratamentos ou talentos que somente eles dominam.
2. Geralmente, divulgam, de forma muitas vezes convincente, segredos que somente eles conhecem, e que governos, indústrias ou associações de especialistas fazem tudo para esconder do público em geral
3. Negacionistas seletivos: escolhem o que lhes convém da ciência, distorcem o conhecimento médico e se valem de estudos frágeis ou totalmente falsos para apoiar seu ponto de vista sempre contrário ao resto da humanidade
4. Sugerem assim benefícios de tratamentos que nunca foram provados ou confirmados
5. São como abutres, que rondam pessoas em situações vulneráveis e se alimentam das dúvidas e dos medos alheios e leigos, prometendo certezas médicas das quais a ciência ainda demonstra dúvidas
6. Apoiam-se em pesquisas de opinião do tipo 9 em cada 10 médicos perguntados aprovam este ou aquele tratamento. Depende de que médicos foram incluídos nessa pseudopesquisa. Nunca mostram resultados de estudos sólidos publicados em revistas médicas conceituadas e revistos por outros cientistas
7. Alguns oferecem tratamentos “ótimos”, que conseguem curar várias doenças, como reumatismo, câncer e infarto. Esquecem de mencionar que cada uma dessas doenças tem mecanismos de ação totalmente diferentes, e que seria quase impossível um tratamento ser bom para todas elas.
8. Piores são aqueles que utilizam as mídias sociais para apresentar testemunhos, pacientes ou familiares, que se beneficiaram desses tratamentos improváveis. Parecem programas de milagres que pululam nas nossas telas.
9. Alguns se apoiam, ou dizem que se apoiam, na sua própria e extensa experiência, que ninguém no mundo tem, com resultados maravilhosos e curas certeiras
10. Alguns divulgam tratamentos milenares, com a ilusão de que, se esses recursos estão por aí desde a Idade Média é porque são eficientes e que a humanidade os confirmou. A sabedoria dos séculos geralmente não confere eficácia a um tratamento.
11. Reclamam do domínio da ciência, mas apelam ao sentimento de que ela não sabe tudo. E, realmente, a ciência nunca pretendeu saber tudo. Ao contrário, vive pesquisando para aprender cada vez mais.

Assim, já que a ciência não sabe tudo, os charlatães reivindicam para si o privilégio de saber.
Esses charlatães, sejam eles médicos, farmacêuticos, biólogos, governadores ou presidentes, infestaram as mídias durante a pandemia. Aparecem toda hora negando o conhecimento consolidado e divulgando lorotas que eles acreditam ou te fazem acreditar. Eles são nocivos, antiéticos e mercenários. Prejudicam a saúde dos pacientes, apelando à sua fé e à sua ansiedade, para ganho próprio de dinheiro ou de fama. Enquanto tivermos ignorância e desespero, esses parasitas, certamente, vão continuar proliferando.

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