Artigo

Debate não deve produzir impactos significativos

Para Aldo Forazieri, antipetismo parece ter perdido força como cabo eleitoral

Debate não deve produzir impactos significativos
Debate não deve produzir impactos significativos
Foto: Kelly Fuzaro/Band Foto: Kelly Fuzaro/Band
Apoie Siga-nos no

Por Aldo Fornazieri*

O debate promovido pela Band, neste início de campanha para as eleições municipais de 2020, não deverá produzir impactos significativos no eleitorado. As razões são várias: o momento ainda frio das eleições, o número excessivo de debatedores, uma disputa ainda não polarizada e os constrangimentos impostos pela pandemia.

Os candidatos, em que pese algumas estocadas mais duras, de modo geral pareceram contidos. O que ficou fora de tom foi agressividade de Brunos Covas, ora contra o PT e ora contra Andrea Matarazzo. De duas uma: ou Covas avalia que o candidato do PT chegará forte na reta final do primeiro turno ou julga que o antipetismo rende votos. Qualquer um dos dois juízos está fora de contexto neste momento e Covas parece perder-se nas lembranças de disputas passadas. Ele jogou ao público a estocada da “bolsa crack” , mas a história não apagará a violência e a desumanidade que ele e Doria patrocinaram contra os moradores de rua e os usuários de crack.

O antipetismo parece ter perdido força como cabo eleitoral. Porém, ele ainda persiste: se não dá votos aos antipetistas, pode tirar votos de Tatto. O partido não encontrou, até agora, uma fórmula para reduzir mais o antipetismo.

Nenhum candidato saiu vencedor e também nenhum candidato foi desastroso

Nenhum candidato saiu vencedor e também nenhum candidato foi desastroso. O que se pode dizer é que nenhum encontrou uma forma de se destacar no contexto de um debate marcado pelo número excessivo de participantes. O mais titubeante e inseguro pareceu Celso Russomano: se escorou em Bolsonaro e nos direitos do consumidor. Passou a impressão de conhecer pouco os problemas da cidade.

No campo da esquerda, Boulos, Tatto e Orlando Silva deram os seus recados, marcaram suas posições, mas permaneceram numa zona de equilíbrio. Marina Helou e Sabará apostaram num público mais jovem, conectado, ecológico, moderninho. Joice e Arthur do Val não fugiram ao figurino agressivo da direita. Joice acusou Russomano de corrupção e tentou aparecer como a candidata da Lava Jato, repetindo o Bolsonaro de 2018.

Quanto aos temas debatidos, estranhamente, a questão da Saúde ficou num segundo plano

Quanto aos temas debatidos, estranhamente, a questão da Saúde ficou num segundo plano. Estranho, tanto por estarmos ainda em plena pandemia e porque, em regra, é o tema que mais preocupa os paulistanos. Emprego e transporte foram os temas mais dominantes.

O que os candidatos precisam encontrar é uma tática adequada para a campanha. A conjuntura eleitoral da cidade está indefinida: Covas tem uma vantagem das avaliações positivas sobre as negativas. Assim, não se configura claramente uma conjuntura de mudanças. Se a tática de Covas parece ser a de preservar seu capital político, os demais precisam encontrar uma fórmula de credenciamento como candidato da mudança. Covas e Russomano não deverão disputar, juntos, o segundo turno. Um será expirado.

Covas e Russomano não deverão disputar, juntos, o segundo turno. Um será expirado

Aquele oponente que melhor encarnar a ideia de mudança, de renovação, de inventividade e conseguir cativar a simpatia do eleitorado, seja pelo seu carisma, seja pela sua capacidade persuasiva, tende a passar para o segundo turno, provavelmente contra Covas. Mas sempre convém lembrar que a Deusa Fortuna costuma pregar peças nas avaliações. Afinal, ela tem o domínio do acaso e do imprevisto.

*Aldo Fornazieri é professor da Escola de Sociologia e Política (Fespsp)

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo