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A relação da Covid-19 com as complicações no coração

O vírus lesa as células do miocárdio, os cardiomiócitos, por mecanismos diretos e indiretos, escreve Drauzio Varella

Representação criativa de partículas do vírus Sars-CoV-2. Foto: NIAID Representação criativa de partículas do vírus Sars-CoV-2. Foto: NIAID
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Os coronavírus fizeram fama por causar resfriados. O atual SARS-CoV-2, além das vias aéreas superiores, agride, no entanto, outros órgãos, em especial os pulmões e o coração. Embora os coronavírus da SARS e da MERS possam provocar miocardites e outras anormalidades cardíacas, o SARS-CoV-2 o faz de maneira mais agressiva.

Descritas logo no início da pandemia, as complicações cardiológicas eram consideradas exclusivas dos casos mais graves, dos pacientes com insuficiência respiratória internados nas UTIs. Essa impressão mudou quando surgiram descrições de mortes súbitas e de arritmias cardíacas em jovens que haviam apresentado quadros de Covid-19 assintomática ou com sintomas mínimos.

Para penetrar as células, o atual coronavírus utiliza o receptor ACE2, existente na membrana celular. Esse receptor está presente em diversos órgãos, entre eles o músculo cardíaco, tecido em que atinge concentrações elevadas.

Em autópsias, o RNA do vírus é encontrado no fígado, nos rins, no sistema nervoso e, em altas concentrações, nos pulmões e no coração. Numa série de 22 autópsias, o RNA viral foi detectado no músculo cardíaco em 16 casos. Em outra, com 39 casos, 31% dos corações continham o RNA do vírus.

O coronavírus lesa as células do miocárdio (cardiomiócitos) por mecanismos diretos e indiretos. Ao infectar o cardiomiócito por ação direta, ele provoca necrose celular, que leva à desorganização da maquinaria que coordena a contratilidade do músculo. Por mecanismo indireto, a resposta do sistema imunológico armada para destruir o agressor dispara um processo pró-inflamatório que envolve glóbulos brancos e plaquetas, com liberação de citocinas.

Dessa forma, montada com a melhor das intenções, a resposta imunológica volta-se contra o hospedeiro, aumentando a propensão para formar coágulos, que poderão obstruir capilares e os grandes vasos, fenômeno que explica os infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) nos mais velhos, mas também em jovens.

A miocardite, inflamação difusa do miocárdio, pode bloquear a condução do estímulo elétrico, causar infarto e, eventualmente, morte súbita, mesmo em jovens. Na região da Lombardia, no Norte da Itália, esse quadro foi responsável pelo aumento de 77% das mortes súbitas. Alterações cardíacas são detectadas em cerca de 20% dos pacientes hospitalizados, sem cardiopatias prévias, e em 50% dos que já as apresentavam.

Os principais sintomas do comprometimento cardíaco são fadiga, falta de ar aos esforços, alterações do ritmo das pulsações e dor no peito que simula infarto. Chamam especial atenção os casos do jogador de basquete profissional, de 27 anos, que teve morte súbita num treino, depois de curado de uma Covid quase assintomática, e o de quatro casos de miocardite entre 26 atletas da Universidade de Ohio, que tiveram Covid com poucos ou nenhum sintoma.

Os mais jovens que se aglomeram nos bares, nas praias e nas festas, sem usar máscara, acham que nada lhes acontecerá se pegarem o vírus. Imaginam que a juventude é um salvo-conduto. Santa ignorância.

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