Cultura

Edu Aguiar traz letristas de peso em CD sensível na voz de Camila Matoso

Composições têm parcerias com Carlos Rennó, Luiz Tatit, Bráulio Tavares, Ivan Santos, entre outros

Mingo Araújo, Camila Matoso e Edu Aguiar (Foto: Manuel Aguas/Divulgação)
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O álbum Projeto 1 – Entropia é um trabalho conjunto que conta com três músicos na linha de frente: o compositor carioca Edu Aguiar, o percussionista potiguar Mingo Araújo e a cantora carioca criada no Rio Grande do Norte Camila Matoso.

Os dois primeiros trataram de dar forma musical ao registro na voz da jovem intérprete.

Entropia, que na física está ligada à desordem na transferência de energia, tem a ver no CD com os momentos difíceis de hoje, de acordo com Edu Aguiar.

“Quando vejo a quantidade de queimadas, atendendo a demanda da ganância econômica que transborda em muito o limite sensato da ambição, vejo como consequência a aceleração do processo destrutivo do planeta. Esse movimento todo retrata essa entropia social o qual passamos hoje. Quis retratar um pouco dela no trabalho”.

Composições com homenagens

Na quarta faixa, Mundo Insano (uma das três músicas do disco de Edu Aguiar sem parceria), o compositor homenageia o poeta underground Manoel Gomes, morto ano passado após ser atropelado em São Gonçalo (RJ). “Estávamos alinhavando uma possível parceria, mas acabou não acontecendo”, lembra Aguiar.

Já a seguinte, Até Fazer Tudo Mudar (com Suely Mesquita), é dedicada a Marielle Franco: “Paz / Como é que é? / Como é que faz? / Não lembro mais / Não quero assim”.

Tá na Moda (com Luiz Tatit), a oitava faixa, que tem a participação de Fred Martins, mostra letra de caráter subjetivo e preocupado com o destino.

A nona música, na composição Violência Banal em que Edu Aguiar fez sozinho, homenageia Marcelo Yuka (músico falecido no início do ano depois de viver quase 20 anos em uma cadeira de rodas após ser baleado em um assalto): “São tantas essas desavenças / Em meio a tanta indiferença / Que faz da violência algo banal”.

Minuto de Silêncio, a décima faixa do disco Entropia, Camila Matoso canta com Geraldo Azevedo poema de Bráulio Tavares musicado por Edu Aguiar.

Já a penúltima música Camila faz duo com Zélia Duncan na música Humano (composição de Aguiar com o letrista Ivan Santos). Trata-se de uma composição de palavras e expressões agudas: “Exilar, incluir / Negros, loucos e gays / Num quesito de Inquisição / Ou gritar cada um dos Direitos Civis minha sina contém sins / contém nãos”.

O álbum fecha com uma bonita música instrumental que leva o nome do disco.

Mais poetas

Entropia é o terceiro registro fonográfico de Edu Aguiar – os outros dois foram curiosamente lançados com o pseudônimo de nome de uma banda chamada Filhos de Platão. O compositor é ligado ao círculo de músicos despontado nos anos 1980 cujo ponto comum foi Lenine e seu primeiro disco (lançado em dupla com Lula Queiroga), o Baque Solto (1983).

Não à toa Aguiar apresenta nesse trabalho músicas com parceiros antigos do músico pernambucano, como Ivan Santos, Bráulio Tavares e também Carlos Rennó – este último assina com ele a segunda faixa, a Força que Vem do Vento.

Outras faixas do disco incluem parceria com o compositor e instrumentista Alexandre Lemos e os poetas Adriano Nunes, Roberto Bozzetti, Emmi Finozzi e Li Vereza. Participam ainda do disco os cantores Eugenio Dale e Gabriela Morgare.

A presença do percussionista Mingo Araújo na produção do registro proporcionou riqueza harmônica, pela sua enorme tarimba no meio musical, onde já se apresentou e gravou com muita gente aqui e no exterior.

“A raiz do trabalho está nas cordas associadas a gama de sonoridades percussivas do disco (executadas pelo próprio Mingo). Algo que desde o início eu sabia que ele, por tudo o que já fez na música brasileira, conseguiria trazer para o trabalho”, diz Aguiar.

A cantora Camila Matoso responde bem ao disco, mantendo a unidade no canto. Com voz delicada, atendeu a proposta do disco e chega a emocionar em alguns momentos. O trabalho é de MPB com alguma influência latina e afro-americana.

Os músicos que tocam no disco são (em ordem alfabética): André Gomes (baixo), André Siqueira (violão e guitarra), Arthur Martua (violão), Carlos Gómez (violões de aço), Carlos Martau (viola, violões diversos, bandolim), Fabio Girão (baixo), Itamar Assiere (piano), Janaína Salles (violoncelo), Joana Queiroz (sopros), Roger Negão (baixo) e Valentina Estol (flauta).

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