Política

Sem formação diplomática, Eduardo Bolsonaro diz que estuda história pelo YouTube

Cotado à embaixada, filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou no Twitter que está se preparando para sabatina no Senado

Sem formação diplomática, Eduardo Bolsonaro diz que estuda história pelo YouTube
Sem formação diplomática, Eduardo Bolsonaro diz que estuda história pelo YouTube
O deputado Eduardo Bolsonaro. (Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados)
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O governo ainda não formalizou a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à embaixada em Washington, mas o parlamentar já se prepara para a sabatina que precisa enfrentar no Senado. Apesar de não ter carreira diplomática e não ter cursado o preparatório no Instituto Rio Branco, Eduardo disse, em sua conta no Twitter, que está estudando história nacional pelo canal Brasil Paralelo, no YouTube.

A postagem é de domingo à noite. Eduardo escreveu: “Tenho estudado para a sabatina e isso inclui estudar a história nacional. Assim, tenho revisto episódios do @brasilparalelo sobre a história do Brasil, como o episódio que trata da nossa independência passando por Leopoldina, Bonifácio e Princesa Isabel”. Junto à publicação, Eduardo divulga o vídeo “Independência ou Morte”, da série “Brasil – A Última Cruzada”, hospedado no canal desde 21 de dezembro de 2017.

O canal Brasil Paralelo publica documentários e entrevistas, principalmente sobre política nacional. Um dos entrevistados mais comuns no canal é o escritor Olavo de Carvalho, guru da cúpula do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Em um vídeo que ganhou popularidade no início do ano, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirma que o nazismo é de esquerda.

“É muito a tendência da esquerda, ela pega uma coisa boa, sequestra e perverte, e transforma em uma coisa ruim. Que eu acho que é mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Por isso que eu digo também que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda”, afirmou o ministro. A declaração foi amplamente criticada por historiadores internacionais.

O próprio Eduardo já foi entrevistado pelo canal, em 21 de novembro de 2018. O filho do presidente da República critica o que chamou de “política de desencarceramento” no Brasil e defende que a pobreza não é a causa da criminalidade.

“A política vigente hoje no Brasil é do desencarceramento. Falam que os presídios são as universidades do crime, e aí preferem soltar os marginais”, diz o deputado, enquanto dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) mostram que a população carcerária brasileira quase dobrou entre 2006 e 2016. “Você vai no interior do Nordeste, em lugares miseráveis, e o cara não te rouba. Ele come calango, te pede dinheiro, mas se ele tiver valores, ele não te rouba. A gente não pode achar que a pobreza é a causa da criminalidade. Se assim fosse, o Brasil já teria sido tomado pelo crime.”

Outra entrevista popular do canal é com o jornalista William Waack, que deixou a TV Globo após vazamento de vídeo que gerou acusações de racismo. No vídeo, Waack diz que “a esquerda não tem nenhum apego a qualquer princípio moral”. Ele é um dos entrevistados do documentário “1964 – O Brasil entre armas e livros”, que revisita a história da ditadura.

Sem histórico na diplomacia

Caso seja nomeado para a embaixada em Washington, Eduardo será a primeira pessoa sem carreira na diplomacia a ocupar o posto desde o fim da ditadura. A partir do governo de José Sarney, todos os embaixadores brasileiros nos Estados Unidos saíram do Instituto Rio Branco, o centro de formação de diplomatas do Palácio do Itamaraty.

Um deles foi Rubens Ricupero, que comandou a embaixada entre 1991 e 1993, durante o governo Fernando Collor de Melo. Em entrevista à Rádio França Internacional, o diplomata se disse chocado após Jair Bolsonaro indicar o filho para a embaixada. “Só um monarca absoluto, como os reis árabes do Golfo, pode fazer uma coisa desse tipo. Em países modernos, eu não conheço nenhum exemplo”, afirmou.

Segundo o presidente da República, entre as principais atribuições de seu filho, estão a fluência em inglês e espanhol, a experiência com intercâmbio nos Estados Unidos e a amizade com a família de Trump.

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