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Dhul-Hijja, a Festa de Sacrifício e um mês especial para os muçulmanos
Para os muçulmanos, é o momento de praticar o jejum, boas ações e fortalecer o lado espiritual de cada um


Na sexta-feira 2 de agosto começou o mês de Dhul-Hijja, último mês do calendário islâmico. Este mês abrange uma data importante que é a Festa de Sacrifício – Eid al-Adha – e, além desta data, os nove primeiros dias que a precedem. A importância destes dias é mencionada nos ditos do profeta Muhammad. A seguir, faremos uma breve reflexão sobre os primeiros dez dias do mês de Dhul-Hijja.
O profeta Muhammad diz: “Perante Deus não há outros dias mais agradáveis do que os primeiros dez dias de Dhul-Hijja. O jejum praticado em cada dia destes é igual ao jejum de um ano, em recompensa, e cada noite é igual à Noite do Decreto (Lailat al-Qadr – A noite em que o Alcorão começou a ser revelado).” (Tirmidhi, Sawm, 52).
Segundo os relatos de companheiros do profeta, ele passava os nove primeiros dias deste mês praticando jejum e boas ações, claro, além de orações e preces. Por isso, é sugerido que os muçulmanos também passem estes dias praticando jejum, boas ações e fortalecendo o lado espiritual de cada um, assim como se faz no mês de Ramadã. Podemos dizer que, apenas com a diferença de obrigatoriedade, nestes primeiros dez dias de Dhul-Hijja, vive-se, ou deve-se viver, um mini-Ramadã. Além das indicações do profeta e dos sábios, as dez primeiras noites são juradas no Alcorão na surata al-Fajr (Alcorão, 89:2).
Além dos benefícios destes nove dias em que se sugere jejum, o profeta afirma que o jejum do dia 9 de Dhul-Hijja, dia de arafa, tem a importância de intercessão para o perdão aos pecados. Claro, tanto o jejum quanto as demais boas ações não devem-se fazer senão para contentar a Deus, pois o Islam orienta seus adeptos a agradar a Ele. A busca pelo perdão é muito valiosa à visão islâmica, pois é reconhecimento dos erros. Porém, ir além e buscar agradar a Deus é mais valioso que qualquer outro benefício. O contentamento de Deus significa o perdão.
Já o 10º dia do mês de Dhul-Hijja é uma data festiva para o islam. Nesta data, os muçulmanos celebram a Festa do Sacrifício, que é a recordação da promessa de Abraão a Deus. Segundo a tradição bíblica, Abraão estaria sacrificando o seu filho Isaac para cumprir a sua promessa. Já para o islam, o filho a ser sacrificado é Ismael. Apesar de ter a diferença entre os personagens, a essência da história é a mesma: um profeta fiel à sua promessa para com Deus. Em recordação a esta história, os muçulmanos celebram o dia 10 de Dhul-Hijja sacrificando animais. Porém, a data não é celebrada apenas para recordar da história de Abraão, mas também em busca de uma aproximação com Deus.
Abraão não teve filhos por um longo período e prometeu a Deus que se tivesse um filho sacrificá-lo-ia por Ele. Esta foi uma maneira de Deus colocá-lo em prova e ele foi fiel à promessa. Nesta data que se aproxima, que será o dia 11 de agosto, os muçulmanos irão celebrá-la através de Qurban, isto é, sacrifício. A essência do sacrifício não é apenas matar um animal, mas também buscar aproximar-se de Deus, assim como implica o modo do termo em árabe. Segundo o Alcorão, nem a carne nem o sangue dos animais sacrificados neste dia alcançam a Deus, o que alcança a Ele é a piedade do ser humano (Alcorão 17:37). É uma forma de demonstrar a obediência à ordem de Deus e em seguida compartilhar com os outros, principalmente necessitados, da carne para construir as pontes dentre à sociedade. O sacrifício tem o sentido de gratidão por tudo que Deus nos proporciona. Portanto, este sacrifício não é feito apenas para matar um animal ou derramar sangue, mas sim para agradecer a Deus através daquilo que Ele agraciou.
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