

Opinião
Sigamos o exemplo de Madre Paulina: “nunca, jamais desanimeis”
A santa catarinense tem muito a ensinar e inspirar neste momento de trevas


“Nunca, jamais desanimeis, embora venham ventos contrários.”
Santa Madre Paulina
Dia 9 de julho é dia de Santa Paulina, a primeira santa brasileira.
Madre Paulina fundou a Ordem das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que cresceu, estando presente em 11 países, com assistência espiritual e humanitária aos mais desvalidos.
Vale recordar que Madre Paulina tivera de enfrentar o poder discricionário da burguesia paulista e da hierarquia eclesial (os mesmos que atualmente resistem às mudanças de Francisco).
Paulina passou pelo martírio de ser obrigada a renunciar à condução da ordem que criara, sem jamais poder voltar a ocupar qualquer cargo de direção na ordem.
A santa catarinense tem muito a ensinar e inspirar neste momento de trevas. Por uma sincronicidade junguiana, o corpo dela repousa em urna, a uma quadra do Instituto Lula, também submetido ao martírio e pelos mesmos algozes (no caso de Lula, acrescente-se àqueles a hierarquia neo-pentecostal).
Entretanto, os martirizados resultamos ser todos nós.
Com efeito, segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, publicados pelo jornal O Estado de S. Paulo, 2.325 indústrias – de transformação e extrativas – fecharam no Estado nos primeiros cinco meses do ano. O número é o mais alto da década, sendo 12 por cento superior com relação ao último ano.
Cabe multiplicar esse número de indústrias fechadas pelos agricultores que vendem a produção a elas e pelos empregados do setor de serviços que lhes prestam assistência em contabilidade; gerência e informática; recursos humanos etc. Multiplique-se, ainda, o número de indústrias fechadas pelos empregados e empregadas dispensados e pelas respectivas famílias. A eles, acrescentemos rostos e histórias.
Mas o império não acredita em lágrimas, literalmente.
O Consulado-Geral dos Estados Unidos da América no Rio de Janeiro, aquele mesmo que o Wikileaks revelou ter informado Washington sobre reunião da gerente da Chevron com José Serra, na qual o político informou que, caso fosse eleito presidente, mudaria a lei do pré-sal para beneficiar as petroleiras americanas, aquele mesmo Consulado dificultara os vistos de entrada nos EUA para os filhos de Glenn Greenwald e David Miranda, que pretendiam visitar a avó, com câncer.
Trata-se de prática terrorista e covarde, de “vingança transversal”, criada pela máfia italiana, que consiste em atingir os familiares, sejam eles mulheres, idosos ou crianças, como nesse caso.
Lembremos que o mesmo império tem o desplante de esgrimir o argumento dos direitos humanos contra a Venezuela, a Nicarágua e Cuba. A retórica será cômica, se a prática não fosse trágica.
Após tremenda repercussão negativa na imprensa, os vistos foram finalmente concedidos.
É a esse governo, tão degenerado ética e moralmente, que estamos atrelados, por uma burguesia que claramente respeita a democracia apenas quando lhe serve e a descarta sempre que seus interesses sejam contrariados.
Para isso, instrumentaliza parte das igrejas, do estado e dos meios de comunicação, a fim de se apropriar dos bens públicos nacionais, em conluio com o capital internacional.
Um estado mínimo para um país mínimo. Não é outro o sentido do recente fechamento de cinco embaixadas brasileiras no Caribe.
De fato, tudo o que os EUA não querem é o Brasil no Caribe, embora a geografia nos tenha feito um país caribenho, haja vista que o litoral do Amapá está ao norte do delta do Amazonas.
Vale lembrar que devemos aquela conquista ao Barão do Rio Branco, que defendeu o Brasil contra a pretensão da França de todo o litoral do Amapá para a Guiana Francesa, colônia dela. O juiz da causa foi o Presidente da Confederação Helvética.
Se pensarmos na relação de dependência mútua entre Suíça e França, podemos aquilatar a qualidade dos documentos produzidos por Rio Branco para vencermos aquele pleito.
Essa constatação obriga-nos à medição do quanto descemos na escala diplomática, em que estamos reduzidos a ser piada internacional, de mal gosto.
Não é outro o sentido da recente fala da esposa do Primeiro-Ministro do Canadá, que, em visita a uma escola, instou os alunos canadenses a estudarem, lembrando que o único país em que fritar hambúrgueres habilita alguém a ser embaixador é o Brasil.
E pensar que nos governos Lula e Dilma fomos o país diplomaticamente mais avançado em termos de posições políticas em foros multilaterais, sendo justamente o Canadá (então sob governos conservadores) um dos mais atrasados, que mais tentava nos travar o caminho.
Mas sigamos sempre em frente, passo a passo, como dizia Santa Paulina; assim reverteremos a noite e novamente veremos o brilho do sol e da esperança.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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