Sociedade
MTST ‘compra’ em loja da Havan e paga com cheque da dívida de Hang
Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamentos, foi um dos maiores apoiadores de Bolsonaro e deve 168 milhões para Receita e INSS


Nesta quinta-feira chuvosa que tomou São Paulo, uma das unidades da Havan, do empresário Luciano Hang, abriu as portas para mais um dia de vendas. Símbolo do bolsonarismo empresarial, o rosto do milionário figura pela loja em propagandas e ideias. Na camiseta dos funcionários, a frase “O Brasil que queremos só depende de nós” não parece combinar exatamente com o comércio de roupas, aparelhos eletrônicos e brinquedos. A rotina, porém, foi rapidamente alterada com a chegada de clientes inesperados.
O Movimento dos Trabalhadores sem Teto, em parceria com a Frente Povo sem Medo, organizou uma intervenção na unidade da Havan do Itaquá Garden Shopping, em Itaquaquecetuba (SP), para protestar contra a dívida milionária de Hang, um apoiador da reforma da Previdência.
Manifestantes do MTST em loja da Havan. (Foto: Ana Maria Guidi/CartaCapital)
Cerca de 50 pessoas do movimento entraram na loja, colocaram produtos nos carrinhos de compra e se dirigiram ao caixa. A ação, rápida, teve seu ponto-chave no momento do pagamento, com um ‘cheque’ no valor de 168 milhões de reais, a dívida de Hang junto à Receita Federal e ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
“Luciano Hang é mais um devedor que apoia a reforma da Previdência. O cheque é um valor simbólico – temos que desmascarar essas pessoas”, disse Célia Lima, uma das manifestantes.
Danilo Biu, outro integrante do movimento que participou da ação, ressaltou a diferença entre o tratamento de Hang e do brasileiro em relação às dívidas com o governo. “Se a população deve, ela fica com restrição ao crédito e impedida de diversas coisas, enquanto ele tem o direito de pagar em mais de 100 anos. É um absurdo”, disse.
O valor da dívida vem de dados da Receita calculados em 2004. De acordo com os cálculos da época, caso fosse mantido o acordo de refinanciamento de dívidas de Hang dos anos 90, o débito seria quitado apenas em 115 anos.
Josué Lima, um dos organizadores da Frente Povo sem Medo, definiu o protesto como uma denúncia. “Enquanto ele deve para o povo brasileiro, fala a favor da reforma da Previdência. Queremos o nosso dinheiro de volta, e o MTST está planejando diversas ações para cobrar que esta reforma não passe”, disse.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.