

Opinião
A proibição dos charutos Cohiba e os pinos que faltam a alguns
Instruída de forma política, a Anvisa alega presença de ácido sórbico no produto cubano


Nunca fumei cigarros, mas, sim, confesso, charutos. Três a quatro noites por semana. Antes era cachimbo, mas começou a ferir o céu da boca. Passei, então, aos “puros”, desde que eu os ganhe ou me tragam do exterior, sobretudo da ínclita e resistente Ilha. São caros. Atenderiam divinamente o meu prazer, mas desgraçariam o meu bolso.
Então, vou de outras origens central-americanas, caribenhas, de Sumatra, mesmo os nacionais de boa procedência. Baforadas que me deixam feliz e que, fora os aterrorizantes anúncios nas embalagens de que me arrisco a terríveis doenças, impotência e de acabar torcendo para o Corinthians, não resisto à tentação.
Não servem a abstêmios, creio. Aquele sabor intrigante, aroma suave, amargo leve, vegetal, a lembrança das largas folhas verde-acinzentadas, poderiam combinar com guaraná ou Fanta laranja?
Reservo-os para diversificados comedimentos etílicos. Variam com momentos políticos, dos negócios, ou quando em algum luar do sertão, em roda de lavradores. Nem sempre se mantêm comedidos.
E o que me chega de várias fontes consultadas? “Bolsonaro proíbe a venda de Cohiba, considerado o melhor charuto do mundo” ou “Anticomunismo tosco de Bolsonaro proíbe a venda no Brasil do melhor charuto do mundo”.
Uma decisão totalmente política e ideológica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), requer a retirada do produto das lojas, em prazo de 30 dias. Custam, em média, duzentos reais a unidade. Por sua excelência, qualidade de tabaco, sem aditivos, totalmente natural, são para os poucos que podem. O mesmo que ocorre com marcas de excelentes etílicos. Mercado, simples assim, porra! Basta lembrarem-se de Bill Clinton e Monica Lewinsky.
Instruída de forma política, a Anvisa alega presença de ácido sórbico no produto. As folhas do Cohiba são selecionadas e provenientes dos Vegas Finas de Fina de San Luis e San Juan y Martonez, em Vuelta Abajo, e suas levezas de aroma e sabor foram percebidas por Fidel Castro, vindas das baforadas de um de seus guarda-costas, “Chicho” Perez, artesanais feitos especialmente para ele. Fidel gostou e mobilizou a marca.
Uma história tudo a ver, pois, com a implicância do Capitão Insano Primeiro. A Anvisa alega excesso de ácido sórbico nos charutos dessa marca. Dos outros, não sei. Há mais de 300 marcas sendo comercializadas no Brasil, das mais diversas qualidades e procedências, inclusive norte-americana (continência, direita volver!).
Encontrado na natureza, é usado como conservante alimentar. Tem propriedades antimicrobianas e servem para as carnes, em substituição aos nitritos, estes sim cancerígenos.
O ácido sórbico e os sorbatos de potássio “são considerados entre os conservantes mais versáteis e seguros de hoje em dia, por serem inibidores altamente eficientes contra os microrganismos mais comuns responsáveis pela degradação dos alimentos (…) são utilizados em vasta variedade de aplicações na indústria alimentar e das bebidas, incluindo o pão e outros produtos de padaria, produtos lácteos, geleias, xaropes, vinhos e outras bebidas”. (Wikipedia)
Houve tomadas de um pino, de dois, agora de três. Como no país não há problema mais grave, querem tirar um pino. Erram. Precisava mais uns tantos para colocar nas cabeças desses Insanos I, II, III, IV…
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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