Política
Ameaçada de morte, deputada federal relata omissão do governo do Rio
Parlamentar Talíria Petrone (PSOL-RJ) afirma que governo de Wilson Witzel (PSC-RJ) não se manifestou diante de pedidos de escolta


A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) denunciou novas ameaças de morte, nesta quinta-feira 27. Segundo a parlamentar, em abril deste ano, a Polícia Federal já havia recebido informações de conversas ofensivas na deep web. Desde então, ela é escoltada por agentes da Polícia Legislativa em Brasília, mas seu pedido de proteção no Estado do Rio de Janeiro ainda não foi atendido pelo governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
Talíria relata que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enviou dois ofícios ao governador Witzel, nos dias 23 de abril e 10 de maio, solicitando que ofereça proteção e escolta 24 horas quando a parlamentar estiver no Estado. A bancada do PSOL também teria enviado documento com a mesma demanda, porém, de acordo com a parlamentar, Witzel se omitiu diante dos pedidos. “Eu acho que ele vai precisar responder sobre isso. O que tenho a dizer é que a gente não pode achar que pedir proteção tem a ver com um governo ou outro. É papel do Estado oferecer proteção, seja em qual governo for”, disse a deputada a CartaCapital.
A parlamentar afirma que, entre as ameaças, há referências à execução da vereadora Marielle Franco, afrontas raciais e até monitoramento de algumas atividades. Há duas semanas, seu colega de partido, David Miranda, também declarou à Polícia Federal injúrias semelhantes. Outros companheiros de legenda, como Marcelo Freixo e Jean Wyllys, foram alvo de agressões virtuais.
Talíria atribui as mensagens violentas que recebe ao discurso de opressão que recai principalmente sobre populações vulneráveis. “Os temas que enfrentamos provocam ódio dos que têm ódio a negros, a mulheres negras ocupando a política, mas provocam também medo de perder poder. Denunciar violações do Estado por meio da violência policial é enfrentar um poder constituído”, comenta. “Temos uma vereadora executada e, mais de um ano depois, não sabemos quem mandou matá-la. O primeiro parlamentar gay precisou deixar o país por conta de ameaças. Isso mostra a nossa fragilidade democrática.”
Em nota, o PSOL afirma que “devido ao total descompromisso do governo com a segurança de uma parlamentar federal, resolvemos trazer a público para buscar uma solução pública”. Procurado pela Carta, o governo do Estado informou, em nota, que o pedido foi analisado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e que deve ser verificado pela Polícia Federal.
A seguir, a nota emitida pelo governo do Rio de Janeiro:
O pedido da deputada federal Talíria Petrone de escolta pessoal, por 24h, pelo tempo que esta permanecer nos limites do Estado do Rio, foi tecnicamente analisado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Por se tratar de um pleito na esfera Federal, o gabinete concluiu que este deve ser verificado pela Polícia Federal e irá encaminhá-lo à Superintendência da PF no Estado do Rio de Janeiro.
A conclusão está amparada no inciso III, do Art. 1° do Decreto Federal n° 73.332, de 1973, normatizado pela Portaria do Ministério da Justiça de n° 13, de 2001.
O GSI-RJ ressalta ainda que a parlamentar tem direito à proteção da Polícia Militar do Rio de Janeiro quando estiver no estado em missão oficial, assim como outras autoridades. O pedido deve ser solicitado com até 48h de antecedência, para ser autorizado pelo governador.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.