Opinião
Entre goiabas, mangas e abacates: assim corre a nossa agropecuária
Sentem-se arrependidos por seus votos ou vocês são assim mesmo e se reconhecem nos pensamentos e ações de Jair Bolsonaro?
O que importam as medidas específicas desastrosas que afetam os setores agropecuários se, em quatro anos, o Brasil terá destruído um projeto de Nação, e que precisará décadas até se estabilizar e poder olhar o futuro?
Sentem-se arrependidos por seus votos ou vocês são assim mesmo e se reconhecem nos pensamentos e ações de Jair Bolsonaro, filhos, equipe de governo e membros do PSL?
Perceberam que, exceção às galhofas e chacotas, mesmo a oposição se confunde e deixa o barco correr? Claro. Não precisa. Eles mesmos, diariamente, criam seus próprios conflitos. Se os resolverão? Sei lá. Entendimento e harmonia precisam inteligência, o que não vejo em único setor do governo.
Se estão felizes, acham que “precisamos dar-lhe tempo”, a reforma da Previdência é necessária nas bases como foi proposta, então continuem. Que o futuro os faça benfazejos.
Apostam e prestam continências aos EUA de Donald Trump, improvável ser reeleito. Mesmo que o seja, e daí, se em dois anos a China, com suas extensões pelas Europa, África, Ásia e América Latina, voltará a ser a maior hegemonia do planeta.

A China cresce de forma cada vez mais ajustada. Compra do Brasil cinco vezes mais do que os EUA. Basta ler em qualquer língua, mesmo em português, que os atuais ministros mal balbuciam.
Venho anunciando isso neste espaço há anos: os EUA são nossos piores concorrentes e não clientes, em agronegócios. Mas a quem os ruralistas apoiaram em troca de posse de armas, licença de matar índios e caboclos “sempre serão os invasores”, e liberação indiscriminada do uso de agrotóxicos? Tudo o que significa morte.
O presidente foi à inauguração do Agrishow, em Ribeirão Preto/SP, feira agrícola de expressão mundial. Lá, anuncia um acréscimo de 1,5 bilhão de reais ao crédito rural da última safra, já esgotado, embora devesse durar até final de junho, quando se inicia o pré-custeio.
O capitão deixa de ser reservado e brinca. Pede que o Banco do Brasil cobre taxas menores sobre o reforço.
Paulo Guedes, o ministro da Economia, torce o nariz e pensa: “Quantas vezes já disse a essa besta que de agora em diante os bancos trabalharão com taxas livres. Não apenas para esse reforço, mas para todo o Plano Safra (2019/2020). Aposto que logo, logo, a ‘Menina Veneno’ vem pedir taxas subsidiadas para o Moderfrota, linha de crédito para compra de máquinas agrícolas disponibilizada pelo BNDES”. Não deu outra.
Com poder de barganha reduzido junto às instituições bancárias, gerentes de agências despontuados por acúmulo de inadimplências, caberá aos pequenos e médios produtores, muitos deles ligados à agricultura familiar e aos assentamentos, decidir arcar com custos mais elevados ou perder produtividade pela redução no uso de tecnologia.
Está sendo assim com os triticultores do sul e os “tiradores” de leite em Santa Catarina, ferrados pelas mesuras que Jair faz a Donald.
E é assim que, entre goiabas, mangas e abacates, corre a agropecuária brasileira que vocês escolheram.
Inté!
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